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Resposta a um desafio, às quase quatro da manhã de uma noite sem sono, com o corpo a doer e a querer sair pelos olhos, e com novas regras, porque este texto não sou eu, é um eu melhor do que eu, e porque já não tenho e ainda não tenho idade para escrever sobre mim.

um, Sou tudo o que tu queres ser e não és, mas em melhor ainda.
Muito inteligentemente sou de todas as pessoas, mas só bocados,
e sou-me só mais do que com gente,
a passear de mansinho aos tropeções na noite dos telhados
com a lua nos olhos e um Só miado baixinho,
entre as letras e as folhas do mato que não me pede autorização para crescer
do lado de fora.
Muito inteligentemente não sabes de mim, perguntas-te quem sou, mas não te respondes,
nem te respondem as minhas mãos nem os meus gestos.

dois, Sou-te perfeito, acabado,
sou-te projecto por fim passado a tinta,
sou-te objectivo, revisto sempre às horas mais longas e mais frias,
sou-te livro perdido e reencontrado numa estante.
Sou-te
- Tudo
e não sei.

três, Digo sempre a coisa certa na altura certa,
- Dizem que é amanhã que nasce o puto
disseste-me, já há mais de um ano no dia antes de ser natal
- É teu?
perguntaste-me, e eu disse
- Só vou saber depois
e disse
- Se for, queres ser o padrinho?
e tu sorriste, leste entre as letras como o costume e sorriste,
mais do que devias.

quatro, Várias vezes te disse que
- Estou aqui
quando perguntaste por mim, várias vezes te emprestei o mesmo
- Estou aqui
que me pedias, quando perguntavas por mim.
Não sei porquê devo ser calma, devo parecê-la sempre
porque mo pedias sempre a mim,
e porque me cansei de to dar, todos os dias, e um dia deixei.

cinco, Sei sempre o que dizer,
não te conheço mas sei sempre o que me queres ouvir,
porque te conheço que chegue.
És pequeno,
perdes-te nos outros que são mais que tu, que são qualquer coisa mais,
que estão mais perto de ser fim e de ser pronto.
Por isso olhas-me com medo, com respeito, com a reverência de quem olha para uma estátua,
para alguém que sabe-se lá porquê mereceu viver em bronze,
ou morrer em bronze,
ou em pedra.

seis, Digo sempre o que queres quando o queres,
porque não sei dizer
- Não,
por alguma razão nunca te neguei nada, nunca te disse
- Não
porque não preciso, porque me calo e te faço nada,
e deixas de ser, pelo medo que me tens, porque temes perder-me,
outra vez, de vez,
e porque sabes que já me perdeste.

E dizes tu que pensamos igual,
que somos igual,
que trocamos de voz quando queremos,
e que somos uma cabeça, só, em dois lugares.
E vais dizendo isso, porque não o digo eu, porque não o acho, e porque entretanto me calo
e quando me calo e te faço nada
tu fazes-te ainda menos, porque eu não estou
e não te digo
- Estou aqui. RC


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Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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