Ela sai do carro
- Pode passar para a frente Ricardo
diz o engenheiro e antes que eu me sente diz
- Antes que se sente abra o capot
e eu acciono a alavanca e clank
- Levante-me aí o capot
eu saio do carro e deslizo o dedo à procura da patilha e levanto o capot, espeto-lhe a vara para ele se manter de pé e ele
- Ricardo feche a porta
que eu deixei aberta e antes da converseta ele
- Sabe que se deixar a porta aberta das nove da manhã até ao fim da tarde, ela pode estar aberta o dia todo e ninguém o incomodar, mas se às seis da tarde alguém lhe der uma panada na porta sabe de quem é a culpa?
e eu vou arriscando em surdina que
- É minha
e ele
- É do Ricardo por isso tenha cuidado
pára por uns segundos e recomeça
- Ó Ricardo vamos imaginar que eu lhe empresto o meu carro
(ainda não me viu a conduzir e já me quer emprestar o carro hein isto é que é prestígio)
- Vamos imaginar que eu lhe empresto o meu carro e você tem de ir a éle xis o que é que o Ricardo deve verificar antes de iniciar a viagem?
e eu de olhos no motor na bateria no reservatório do líquido de refrigeração na vareta do óleo começo a dizer o que devo verificar e começo pelas escovas e acabo a dizer todos os diferentes tipos de papel que devo ter comigo para os senhores polícias não se passarem comigo
- Ok Ricardo pode entrar
e eu entro,
pego no carro com as duas mãos e com os dois pés e meia hora depois posso despedir-me dele de vez
sou, finalmente, possuidor de uma carta. RC



À espera do comboio roubei uma frase ao Foer
(Jonathan Safran Foer)
que diz assim
(The Unabridged Pocketbook of the Lightning página dois mesmo em baixo)
- I hope that you never love anyone as much as I love you
e várias vezes dou por mim a mastigá-la, a destruir todas as palavras e a montá-las outra vez no sítio
- I hope that you never love anyone as much as I love you
e ainda não sei se é bom ou é mau dizer isto a alguém, e continuo
- I hope that you never love anyone as much as I love you
a não dizer. RC



Nove e um quarto da noite num canal generalista. Ok o mundo já não é o que era.
Estreia hoje na RTP1 a série Lopes da Silva
- Agora já há dinheiro para um nome composto
do colectivo Gato Fedorento, e promete ser grandiosa.
É giro estar a fazer-se história em 2006 e eu ir registar isso em VHS. RC



Significando, Hoje está toda a gente com a neura. RC



Estou completamente fascinado pelo trabalho de um animador que me foi dado a conhecer pelo meu senhor professor de londres
(e também pela gente fofa que editou o dvd e também pela gente não menos fofa que o decidiu comprar e pôr no arquivo lá em baixo)
que se chama Paul Driessen. Provavelmente holandês, os filmes deste senhor são curtas de animação feitas nos últimos trinta anos, e em que se explora um traço incerto e um desenho de personagens delicioso. O dvd
(que tive a honra de copiar para poder devolver ao arquivo e ficar com um para mim)
junta os filmes feitos entre 1970 e 2004, desde os inícios da procura de uma linguagem espacial assente em grandes manchas de cores fortes até ao último filme que, chamado 2D OR NOT 2D, resume os filmes mais recentes em que as duas dimensões se desdobram em movimentos de câmara belíssimos e em que os personagens se movem com uma fluidez de traço e de mutação de formas impressionante. O dvd contém ainda uns extras, mas os cento e setenta minutos de Driessen que temos ali chegam bem para chegar à conclusão que o shôr Disney era, provavelmente, um bocadinho bem-comportado demais. RC



Foi delicioso ver os olhos de puto daquele homem. À volta dele, tudo brilhava com uma calma e uma paz que há muito tempo não.
- Estou a rearrumar-me
diz ele, e
- Já provei tudo o que tinha a provar, agora apetecia-me fazer algo de artisticamente útil
diz ele também, e eu sorrio do lado como eterno aprendiz e tinha já uma ou duas ideias para lhe apresentar. RC





Ando há uns tempos a adiar uma carta de amor aberta ao homem que me ensinou a defender-me
que me mostrou que a comédia é arma dos franzinos,
que me ensinou a descobrir e a ir procurar coisas
quando gozava com a história e eu queria perceber as piadas,
que pela primeira vez me disse que o mundo é tão grande
e que não fica longe, se quisermos,
que me desafiou a ir cada vez mais longe, a testar-me, a aprender mais de mim,
que me apresentou os seus mestres, que eu adoptei como meus,
que me fez escolher isto como profissão com que vou para o desemprego,
que me deu as primeiras aulas de como pegar no mundo como ele está e parti-lo contra a parede
como um homem eternamente puto, sempre culto e sempre à procura,
e que ainda hoje, dez anos depois de eu ter feito pela primeira vez aquela voz que ele fazia
(em frente ao meu primeiro público)
continua a ensinar, a cada palavra, e a cada dia.
Parabéns mestre, e defender-te-ei sempre, pelo que me ensinaste. Pelo que sou. RC



- Estava a pensar naquela revista sobre história chamada Clio e lembrei-me que as revistas ficam muito bem com nomes de carros. RC



Sometimes, they asked, people refer to sexual intercourse as doing sex, having sex, making love and going all the way. Some of Liebow's most insightful find
(hmm fin hmm findings)
on the relationship of these men towards work rely on health and lay-offs. A 35-year-old man who washes dishes is a failure, in his own eyes and those of society. Hoje é o Dia Mundial de Sabermos Todos um Bocadinho de ICS. RC

Erratum, Afinal estive a ver melhor os meus arquivos e sucede que este dia mundial é só a dezanove de abril. Tá giro.



Só hoje é que me apercebi dos efeitos da
- Opá
(trs)
que o BCP lançou sobre o BPI. Que vai ser da Fernanda Serrano quando ela quiser engravidar outra vez? RC





Prendam-me. À vontade. Se vierem cá senhores agentes da Polícia do Copyright eu juro que até arregaço as mangas e ponho os pulsos num interessante molho. Crimes destes valem qualquer coisa. Descarreguei durante a noite o novo
(que ainda não se pode)
cd de Mr Stephen Patrick Morrissey. Dizia ele que este cd não era nada como ele já tinha feito e que por isso o mundo da música devia estar radiante. Pelo menos eu estou.
Chama-se Ringleader of the Tormentors e é mais um monumento de música deprimente. Há várias faixas em que Morrissey nos faz festinhas no cabelo com algumas frases de filigrana para depois nos dar valentes pauladas na nuca com outras. Os tons melancólicos que deviam acompanhar a letra não existem. São substituídos por guitarradas e por novos sons roubados ao Médio Oriente e até parece que, agora, Morrissey deixou de se ralar. Este rapaz, finalmente, é roto. Os anos de
- Morrissey você por acaso é roto?
- Sou? se sou nunca ninguém me disse nada
são agora substituídos por um assumido Then he motions to me with his hand on my knee now i'm spreading your legs with mine in between
para depois um belíssimo Now i am walking through Rome with my heart on a string
()
(se eu fosse a pôr aqui todas as frases belíssimas nunca mais daqui saímos
aliás acho que vou postar aqui as letras todas deste cd)
e quando chegamos ao fim de toda a depressão, de todo o sofrimento e de toda a raiva em forma de acordes, Morrissey dá-nos a sua música mais sorridente de sempre. Como se todo este cd fosse uma vida de drama e de negação e de dor e agora, finalmente, Morrissey tivesse nascido. Chama-se At Last I'm Born. E eu sorri outra vez. RC

At last I am born
Historians note
I am finally born

I once used to chase
Affection withdrawn
But now I just sit back and yawn
Because I am born, born, born

(Look at me now
From difficult child to spectral hand to Claude Bresson
Blah, blah, blah, blah, blah, blah
Marco Martin!)

At last I am born
Vulgarians know
I am finally born

I once thought that time
Accentuates despair
But now I don’t actually care
Because I am born, born, born

(Look at me now
From difficult child to spectral hand to Claude Bresson
Blah, blah, blah, blah, blah, blah)

At last I am born
At last I am born
Leading the one true, free life
Born

I once thought that I
Had numerous reasons to cry
And I did, but I don’t anymore
Because I am born, born, born

At last I am born
At last I am born
It took me a long, long time
But now I am born

I once was a mess
Of guilt
Because of the flesh
It’s remarkable what you can learn
Once you are born, born, born

Born, born, born
Born, born, born
.





Vim agora de ver CAPOTE, decididamente um dos filmes mais bem escritos, filmados e montados de todo o sempre. O argumento está cheio de silêncios e de cortes inspirados,
nenhuma cena diz mais do que é preciso,
e a cinematografia cheia de luz e de sombra (e tudo só para filmar Capote) serve bem um dos melhores personagens de cinema de sempre. Philip Seymour Hoffman é genial na composição, mas também foi-lhe dado um pequeno tesouro neste personagem,
Truman Capote é um homem extremadamente idiossincrático, personagem dentro de si próprio ainda mais camp numa sociedade que o admira de longe, e um homem que descobre o livro da sua vida no coração de um assassino. As mãos de Philip Seymour Hoffman, o lábio de cima que treme, os olhos quase metálicos e a postura recta trazem-nos um escritor que se divide entre o fascínio por um monstro e o dever pela sua obra. Nos anos sessenta americanos, Capote é um metrossexual no seu overcoat que se entrega a uma história e que se destrói por dentro.
A realização é sublime de espaços vazios e largueza de campo, e Hoffman rouba cada uma das cenas em que está. Foi o Oscar da noite que me soube melhor e não há outra casa em que ele pudesse estar. Definitivamente. RC



D&G. RC



Hoje passei por algumas mulheres com guarda-chuvas na Baixa aos berros
- É cinco euros, prá chuva é cinco euros
e eu não sei se vou dar dinheiro para esta causa. A gente responsável pela chuva hoje parecia estar a safar-se muito bem. RC



Acusam-me de não beber. De ser um bocadinho menos do que completamente tolo quando saio à noite. Vai ser hoje
(que pode acabar por ser o pior ou melhor dia de sempre)
que eu vou provar até onde é que eu vou quando é para a tolice. Vou beber tanto
mas tanto
que me vai chegar a começar a doer ligeiramente a cabeça. Tanto, que vou chegar a ter de me sentar e dizer um
- Uoooooou.
É quanto eu vou beber. RC



You must go and I must set you free, cause only that will bring you back to me.
(Oh I know that it will happen, I'm sure that it must happen, oh I know it's gonna happen, cause I believe in the certainty of chance.)
(Tanto isto
como o título de ontem em tradução mongolóide
foram tirados da música The Certainty of Chance de Neil Hannon.) RC



Sometimes at night the darkness and silence weighs on me. Peace frightens me. Perhaps I fear it most of all. I feel it is only a façade hiding the face of hell.
I think
- What is in store for my children tomorrow?
- The world will be wonderful,
they say, but from whose viewpoint? We need to live in a state of suspended animation, like a work of art. In a state of enchantment. Detached. Detached.


(pedido emprestado ao filme La Dolce Vita de Federico Fellini).



Sucede ser hoje o dia internacional do gajedo
(e estou a escrever isto no teclado da faculdade e lá porque este teclado é mac pensa que tem o direito de me irritar
não sei se é de mim mas estas teclas estão muito mal esgalhadas)
e por isso desafio toda a gente a deixar uma mensagem
(não pirosa atenção)
para mandar a uma mulher. As melhores
(ou todas na eventualidade mais que óbvia de não recebermos quase nenhuma)
serão vocalizadas no programa de logo. Espremam os vossos corações, mas não espremam com muita força. RC



O croquis. RC

(a minha viatura
A
ia alegremente na
note-se
via prioritária quando, na aproximação da rotunda, me preparo para passar para a via da direita, e uma viatura
B
uma banheira branca, esquece-se de me ceder a passagem,
viatura essa que não vi apesar de TER OLHADO para os espelhos. Foi quando o senhor examinador
- Um sujeito pequenino com fala de aldeia?
- Essa besta precisamente
evitou a colisão que disse
- Tou lixado consigo
e reprovei nesse momento).



O examinador chamava-se Afonso. RC



. RC



Finalmente, quase um ano depois, a ribeira de Gaia desinundou e pudémos ir ao russo. Quem passa o tabuleiro inferior da D. Luiz em direcção a Gaia e depois vira à direita
(até porque não há outra hipótese)
encontra logo ali o restaurante Russky Stol, propriedade de um clã de indivíduos russos e um espaço deliciosamente aconchegante
(agora já parece que ando a escrever para o Guia Michelin)
com uma decoração que se me perguntassem
- Aquilo parecia-lhe russo?
eu era obrigado a dizer
- De facto dava essa sensação
por isso o objectivo foi superado. Fomos atendidos por um rapazito russo que me relembrou que eu gostava muito de ser ruivo, e trago de lá novidades para integrar nas minhas explorações culinárias
(- Ehpá não deixa lá estar)
incluindo o uso mais alargado de mel. Ninguém alinhou no vodka. RC



Já está. Não há hipótese. Um dos nomes já entrou de tal maneira nos padrões de discurso das pessoas que já não há nada a fazer. Já me perguntam
- Quanto é que custou o afonso?
- Quando é que vais trazer o afonso?
e eu já respondo que
- Só vou tratar do seguro do afonso na segunda
por isso assim fica.

Pêésse, Depois do comentário anterior, o carro da isabel chama-se, agora, horácio. RC


urnas

2 comments

Peço a vossa ajuda para uma assunto de brutal importância,
preciso de escolher um nome para o meu carro.
Depois de hoje à tarde ter passado grande parte da minha vida a lamber os percursos de exame
(sem falhar stops nem atropelar pessoas)
e depois de ter chegado à conclusão que, com algumas pessoas a conduzir, estar no banco de trás é frustrante,
apercebi-me que não há hipótese nenhuma de passar no exame
porque
(apesar de ter estacionado com galhardia em quatro quintos dos estacionamentos que fiz e de não ter raspado nenhuma jante contra o passeio)
ehpá, somente apetece-me. Por isso não vou ser eu a trazer o afonso ou o bernardo para casa na segunda-feira. Comentem neste post, e ajudem-me,
afonso ou bernardo. Ele é azul e tem o tridium cinza claro. RC



Há dias e dias em que o mundo anda parado, mas depois também há dias
(como hoje)
em que chovem boas notícias e pelo menos uma delas a contrariar uma má notícia que eu já tinha dado aqui, por isso cá vai,
afinal, vamos ter quarta série de Peep Show. Numa altura em que saiu em dvd a série que os meninos
(David Mitchell e Robert Webb)
fizeram já há uns anitos, chamada The Mitchell and Webb Situation, chegam notícias que Afinal não, que O Channel 4 reconsiderou e resolveu dar mais uma oportunidade a um dos melhores programas de comédia dos últimos tempos e vamos ter mais seis meias-horas. Como se isto não chegasse,
sabe-se hoje que é dia 5 de abril que estreia na BBC Radio 4 a nova série escrita pelo meu standuper favorito
(do lado de cá do lago)
e miúdo que já tive oportunidade de ver ao vivo quando fui à civilização. Curiosamente, é Civilization que se chama a série que Chris Addison gravou adaptando o texto de um dos seus stand-ups. Todas as quartas-feiras em abril.
No mundo da música, é Neil Hannon que se chega à frente para dizer que lhe vão dar um prémio numa universidade em Dublin
(- For being an original voice in a world of bland monotonous pop singers)
e para dizer que o cd por que todos estamos à espera sai numa época do ano a que ele chama Early summer,
por isso eu digo maio junho.
Para não serem só boas notícias, vou reprovar no exame de condução. RC


Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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