As pessoas temiam isso. É óbvio que a ideia de beleza não era uma tão estrangeira a ninguém e toda a gente acabava por viver, com mais ou menos empenho, à procura de coisas onde pudessem perder os olhos, em que lhes fosse claro que os podiam estender, ou melhor, que os deviam estender, e que passassem a ser, por isso mesmo, reflexivamente ainda mais bonitas pela ou por causa da luz de dezenas de dois olhos. E é também certo que na maior parte dos casos, porque resulta substancialmente mais fácil, essas coisas que as pessoas tomavam por bonitas não eram tanto coisas como eram antes pessoas. Afinal, nem os quadros nos olham de volta quando de topo olhamos para eles —isto é evidente e por isso mesmo obviamente mentira—, nem logicamente se iluminam de mais bonitos se por azar sorriem para nós ou nos ignoram de ombros e costas —é neste caso, e neste caso unicamente, que nos convencemos de ser beleza aquilo que olhamos, porque só algo intrinsecamente belo sabe que o feio é indigno de si e indigno dos seus olhos, e merecedor tão-só dos seus ombros e das costas—. Esta predisposição das gentes de tomar apenas as pessoas como bonitas, e as coisas meras respirações boas de pessoas anónimas —dignas quanto muito de bocados de parede e de vitrinas de cristal—, era clara principalmente a esses mesmos estranhos que se dizem amantes de música, ou apreciadores —barra conhecedores, subentende-se— de quadros, de tectos, de blocos de pedra, de vinhos de prédios, e de ideias de árvores, a quem tinha sido pedido, como já se disse, que interrompessem as suas vidas por uns dias para que se encontrasse, em assembleia-geral-extraordinária, e se declarasse oficialmente por encontrada, claro está, a pessoa mais bonita do mundo. No entanto, e como foi profusamente desfiado durante semanas em editoriais de jornal e reportagens de televisão, e em dezenas de ensaios de pronto publicados sobre a beleza das gentes —chamava-se, aliás, A Beleza das Gentes o que vendeu mais de todos eles, e de todos o pior escrito—, saber-se com carácter oficial, e com o selo branco de anuimento do presidente do mundo —que à altura se encontrava de férias, referiam os jornais, e por isso incontactável, Nós tentámos, acrescentavam os jornais— que havia sido encontrada e que, por isso, se confirmava a existência debaixo do sol de uma pessoa mais bonita do mundo, não era nada de que o mundo estivesse à espera, nem nada que ao mundo fizesse especial falta. Aliás, era incluso uma coisa que trazia ao mundo uma série de problemas que ao mundo nem faziam grande jeito e que se previam lixados de resolver. A verdade, como já foi dito, é que todos levavam o belo nas curvas dos olhos, e que esse belo eram por mais fácil invariavelmente pessoas, mas as pessoas que um fechava nos olhos eram estranhas às pessoas que outro fechava nos olhos, e assim norma, e por isso, salvo raras excepções de capas de revistas ou de centerfolds, o mundo não se atropelava em achar a mesma pessoa bonita —ou tesuda, como chegaram a frasear algumas mancheias de jornalistas—, porque não havia lei alguma que dissesse o mais bonito quem era. Três dias depois do anúncio oficial, uma lei havia que dizia o mais bonito quem era. RC




Paolo Uccello, A Batalha de S. Romano, c. 1456.



[marías TRM1 486]
:
A veces quiere tanto uno a alguien que le cuesta poco esfuerzo ver el mundo con sus ojos y sentir lo que siente esse alguien, hasta donde son reconocibles los sentimientos ajenos. Prever a essa persona, anteciparla.



this is not a sin,
it's not even original,
and hey, we're all individuals,
so let the games begin.

i fall in love with someone new practically every day
but that's ok
it's just the price i pay for being a man

/that's really what i am


[in In and Out in Paris and London, by The Divine Comedy.]



Um dos quadros mais importantes e mais icónicos da pintura do século XVI da península para não dizer da europa em que o conde está que está duplamente esticado e vai-me aquela sujeita e diz-me que é do Velásquez?
Tsc-tsc. RC


El Greco, El Entierro del Conde de Orgaz, 1586-88.



PAMUK, Orhan - My Name is Red. London : Faber and Faber, 2001. €12,92



Chama-se The Incomplete and Utter History of Classical Music. É uma série que foi transmitida na Classic FM há um par de anos e com a apresentação do mui grande e semper genial Stephen Fry. Se há dúvidas disso, ouça-se como começa o episódio um
:
Stephen Hello, my name is indeed Stephen Fry. Easy to remember because it's the name of a famous british comedian. At least, that's the mnemonic I use.
.
Genial. E ao mesmo tempo que se está nessa espécie de nuvem um bocadinho mais rija que é Stephen Fry, aprendem-se coisas sobre música clássica. Galhofa e aprendizagem. Positivo.

Descobri também este f-d-s outra série de rádio que se fez lá fora, de 1979, escrita por Rowan Atkinson e Richard Curtis : The Atkinson People. De quando os moços começavam. RC



A matemática de pensar em ti anda toda trocada. RC



(isto vai ter de parar antes que mais alguém note que é parvo ainda)



:
Volvi a verle los ojos, más azules que grises a la luz de la mañana, pálidos siempre, divertidos en aparencia ante cualquier diálogo o situación, atentos, succionadores siempre, era como se honraran lo que estuvieran mirando (...)



perv duo desecrate tate modern: pictures
+
+
até 7 de maio


Gilbert & George, Bloody Naked, 1996





Olharam então todos uns para os outros. Ao fim de intermináveis horas de discussão, de debate, e de apresentação e consequente sustentação de argumentos dos mais vários, desde o silogístico ao puramente imbecil, depois do que chegaram a parecer dias numa sala fechada e, por isso, de paredes lambidas de fumo de mais de quinhentos defuntos cigarros —era, no entanto, imperativo que a sala se fechasse, dissera o presidente da mesa logo ao início e sabiam-no já todos os presentes—, entre fumadores de tabaco muito fraquinho, chupadores lânguidos de Montecristos ou pessoas que passivamente tossiam, sentiam todos os delegados que se encontravam na sala, vindos com especial carácter de urgência de virtualmente todas as partes do mundo, que se havia atingido uma espécie de plataforma de entendimento —dedicou-se, aliás, a última parte da sessão a tentar decidir se lhe chamar plataforma de entendimento ou acordo tácito de interesses, tendo acabado por ganhar a primeira por uma vantagem irrisória de quatro votos— e que era agora possível, dentro de uma série de limites que foram acordados mais por cansaço do que por outro motivo qualquer, declarar como terminada a assembleia-geral-extraordinária e anunciar a decisão final, em directo, às rádios e televisões que esperavam há cerca de vinte horas do outro lado da porta. Terminada a reunião cada delegado de pronto esqueceu os metros de notas que foram tiradas, entre apontamentos de argumentos bons e por isso de obrigatória refutação e diagramas esquemáticos de homens a passearem cães, que um dos representantes sul-americanos tentou delinear para acabar por representar, rasuras e metasignificações depois, um homem que passeava aquilo que tanto podia ser um lémure tombado de frente como o seu imediato colega do lado esquerdo. O presidente da mesa correu um último olhar em volta da mesa, pronunciou oficialmente, para o redactor da acta, os procedimentos como terminados, e releu uma derradeira vez a declaração concordada que seria imediatamente lida aos senhores jornalistas e restantes membros do corpo diplomático presentes na sala de imprensa. A questão que haviam estado a discutir era, com toda a propriedade, de grande importância, e à movimentação política e económica que originou juntava-se, por razões óbvias, um círculo de influências dos sectores artísticos e da estética de carácter filosófico em geral. Quando se abriu a porta, e por ela saiu metodicamente o presidente da mesa, escolhido em anterior assembleia-geral para discutir uma provável —e agora confirmada— assembleia-geral-extraordinária a ocorrer em data imprevisível e prefencialmente na primavera, a inquietação tropeçou-se em disparos de máquinas fotográficas e entrelaçar de sinais de microfones, que se estendeu ainda por um ou dois minutos, até que o alto-comissário para questões estéticas —assim se chamava o presidente da mesa nos rodapés das televisões— gesticulou um silêncio instantâneo com um movimento da mão direita, confirmou-o, e anunciou, como aliás era esperado, ter sido competente o decorrer da reunião, e disse simplesmente, através de um canto de um olho, Dou oficialmente por encontrada a pessoa mais bonita do mundo. RC



:
(las personas) llevan sus probabilidades en el interior de sus venas.



Ouvido e reproduzido sem permissão. RC

P Foste mascarado de mulher no carnaval?
R Não, fui mascarado de gajo bom e bonito.



completely unrelated a propósito de nada

marías
:
Mi impulso fue cubrirla de nuevo (...) como si hubiera tenido repentina conciencia de que uno no es responsable de lo que ve pero sí de lo que mira, de que lo segundo puede rehuirse siempre —puede elegirse— tras la visión inevitable primera, la que es traicionera, involuntaria, fugaz, la llegada por sorpresa, uno puede cerrar los ojos o tapárselos com la mano en el acto, o volver la cara, o elige pasar velozmente una página sin detenerse en ella ('Pásala, pásala, que yo no quiero tu horror ni tu sufrimiento. Pásala, y entonces sálvate'). [p138-139]

completely a propósito



[vinte anos sem warhol]


Andy Warhol, Skull [Crânio], 1976.



WARHOL, Andy - Mi Filosofía de A a B y de B a A. Barcelona : Fabula, Tusquets, 2006 (1ª ed., 1975). €8,95

[vinte anos sem warhol]

:
La muerte
(todo sobre el tema)

No creo en ella, porque no estás ahi para saber qué ha pasado. No puedo decir nada sobre ella porque no estou preparao para ello. [p135]



Eu sempre fui ligeiramente atadinho no que diz respeito a abordagens. RC



Abre-se aqui um espaço para se comentar o que aconteceu na emissão de hoje. RC



MARÍAS, Javier - Tu rostro mañana - 1. Fiebre y lanza. [s.l.] : Punto de Lectura, 2004. €7,85

:
No debería contar uno nunca nada (...) [pero] la gente va y cuenta irremediablemente y lo cuenta todo pronto o más tarde, lo interesante y lo fútil, lo privado y lo público, lo íntimo y lo superfluo, lo que debería permanecer oculto y lo que ha de ser difundido, la pena y las alegrías e el resentimiento, los agravios y la adoración y los planes para la venganza, lo que nos enorgullece y lo que nos avergüenza, lo que parecía un secreto y lo que pedía serlo, lo consabido y lo inconfesable y lo horroroso y lo manifiesto, lo sustancial —el enamoramiento— y lo insignificante —el enamoramiento—. Sin pensárselo dos veces. (...) No, yo no debería contar nunca nada, ni oír tampoco nunca nada. [p13-21-26]





Depois de anteontem Londres, hoje Paris, e daqui a uns dias Londres outra vez, para refazer o concerto de Judy Garland
(que consta vai sair em DVD com realização de Sam Mendes)
Rufus Wainwright goes west coast com concertos marcados para fins de Abril, já como quem diz que
- Olhem, álbum novo
e por isso Seattle, San Francisco e Solana Beach.
Há quem esteja só a 278 km de Seattle. Raios o partam. RC



há quem não goste de ti. coisa. aliás. que me custa a perceber porque há nada teu que seja de não gostar. esforço-me por nunca falar de ti e de corações no mesmo fôlego. tenho certo como vou fugir daqui. quando vou fugir daqui. qualquer lugar que não aqui é mais onde tu estás e menos onde estão as pessoas que não gostam de ti. coisa que custa. aliás. a entender. tens dias que acordas chuva. imagino. e logo não conheces de mim e esqueces e te pões sol. desenho-te a cores de não se pintaram ainda. fujo daqui numa manhã que chovas. não gostam de ti não por seres tu. mas não seres a tua outra irmã. RC



dói-me a garganta de uma imagem de ti. não sei a tua voz
mas deve soar à respiração dos danados. a cair de uma
ponte. que separa as duas margens do inferno. um piano
que tomba escadas. candeeiros de rua em vénias à chuva
que cai.

------------fecho os olhos de uma imagem de ti. engulo em
seco. faço por não te lembrar. é então. estranho. que te ouço.
dói-me a garganta de uma voz de ti. RC


(isto vai ter de parar antes que mais alguém note que é parvo)





go or go ahead : rufus wainwright

thank you for this bitter knowledge / guardian angels who left me stranded / it was worth it, feeling abandoned / makes one hardened, but what has happened to love // you got me writing lyrics on postcards / then in the evening looking at stars / but the brightest of the planets is Mars / then what has happened to love // so I will opt for the big white limo, vanity fairgrounds and rebel angels / you can't be trusted with feathers so hollow / your heaven's inventions, steel eyed vampires of love / you see over me / i'll never know what you have shown to other eyes / go or go ahead and surprise me / say you've lead the way to a mirage / go or go ahead and just try me // nowhere's now here smelling of junipers / fell of the hay bales, i'm over the rainbows / but oh, Medusa kiss me and crucify this unholy notion of the mythic power of love // look in her eyes, look in her eyes forget about the ones that are crying / look in her eyes, look in her eyes forget about the ones that are crying / go or go ahead / go or go ahead / go or go ahead and surprise me / go or go ahead / go or go ahead / go or go ahead and just try me // what has happened to love.



Em tendo alguém oito milhões e meio de euros e disponibilidade de ir a Madrid buscá-lo. Prefere-se pessoa com carrinha. RC


Francis Bacon, Study from the Human Body: Figure in Movement, 1982.



não tenho nada para fazer. mas chove. cabe-me automaticamente
que a tente segurar toda nas mãos. como recolhes tu
a dessa nuvem onde não chego. o mau tempo vive-me em casa
por ti. coleccionamos chuva diferente deve ser por isso.
não tenho comigo os meus óculos de amar mal ao longe. RC



with a face made for currency, like a coin in ancient rome



PEIXOTO, José Luís - A casa, a escuridão. Lisboa : Temas e Debates, 2002. €X,XX

[o escritor], p31

ele disse não sei porque escrevo o teu nome
eu olhei para ele. eu disse o meu nome não
é tudo que podes escrever.

ele escrevia o meu nome num papel. ele sentava-se
numa cadeira e o luar era a luz de um candeeiro
sobre as palavras escritas.

ele disse amo-te.

ele disse tenho que um dia deixe de poder
escrever o teu nome. eu disse o meu nome não
é tudo o que podes escrever.

ele escreveu o meu nome durante muitos anos.
e eu perguntei porque continuas a escrever
o meu nome? ele olhou para mim. e perguntou
quem és tu?




thx to jared for this



(gosto de montes de coisas e detesto montes de coisas...mas estou a fazer por ser mais positivo, por isso agora vou falar só das boas coisas. adoro os meus amigos e a minha família mais que qualquer coisa no mundo... principalmente os meus coleguinhas de quarto! adoro música... escrevo-a, canto-a, tento tocá-la... adoro filmes...adoro o meu iMac e o meu iPod...adoro a Disney como um tolinho e estou a pensar mudar-me para a Florida para me juntar ao Disney College Program para poder ser um personagem na Disneyworld (Príncipe Encantado ou Aladino)... adoro comer e fazer exercício...o problema com isso é que eu como montes e faço exercício nunca...a minha cor favorita é verde e tenho um problema esquisito em escrever certas palavras ou datas como os europeus...desde que era mais novo...não sei porquê...sou aleatório, se ainda não se tinha percebido até agora...adoro sair e dançar com os meus amigos...adoro ir buscar cheese fries logo a seguir...adoro coca-cola e fruitsnacks e pudim de baunilha...adoro como acabei de me fazer parecer um monte agora... adoro rufus wainwright e martha wainwright e antony and the johnsons, adoro devendra banhart e fall out boy e my chemical romance e cocorosie...quero ser famoso e um dia vou ser...acho que vou parar por aqui... IM-me se quiseres falar.)




Frida Kahlo, The Two Fridas (As Duas Fridas), 1939.



Funciona o comentário ao post anterior como um terceiro totobola, que eu pessoalmente não acho muito estranho porque é assim que funciona o mundo que me rodeia: uns dizem e outros concordam.
Continuo furiosamente a não poder, que é disso que se trata, não poder olhar para dentro e concordar com uma delas.
Agora especule-se. RC



Dei o totobola dos referendos para ser feito por outra pessoa
(uma dos jovens que está a dar cabo do país com esta mania de votar que sim)
e, recordemos, eutanásia, liberalização das drogas leves, reintrodução da pena de morte, casamento entre homossexuais e adopção por casais homossexuais
(primeira jornada)
deu sim, não, não, sim e não.
Concordo com três, respeito quatro, mas não posso concordar com uma. RC



My true love did breathe
by the Sally Ann so softly
that while walking through town
only my heart did hear him
in views of the city

there ain't many folks
by the Sally Ann so pretty
that while walking through town
many a twisted features
make a terrible beauty


[in Sally Ann, by Rufus Wainwright.]



Lido algures (e traduzido livremente). RC

P O que é que procura em alguém do sexo oposto?
R Depende da pessoa.



[When you get where you're going to
write a postcard home
'cause I don't believe you even know
where you're going


in Soul Trader, by The Divine Comedy.]




[+ o resto que falta]



Diz uma sondagem (ver Público de hoje, p4) que os portugueses esperam ser chamados a referendar as seguintes questões: eutanásia, liberalização do consumo das drogas leves, reintrodução da pena de morte, casamento homossexual e adopção de crianças por homossexuais. Pronto, resolvamos já isto: sim, sim, não, sim e sim. RC





Confesso que estou mais quilhado com as pessoas que não foram votar do que com as pessoas que foram votar não. RC





Foi em janeiro do ano passado que o DN passou a ser um dos jornais mais bem desenhados de Portugal. O que antes era uma confusão cheia de linhas e duplas linhas de pesos diferentes, como as tabelas dos relatórios mais manhosos, passou a ser o mais sobriamente bonito dos jornais. Ainda por cima, em dias de festa, havia André Carrilho a ilustrar a primeira página. A capa de hoje foi um desses exemplos do roheiano less is more:



E como se não bastasse, o próprio papel do jornal é mais pesado, mais áspero, mais branco, que os outros. Raios, que é um sacana de um jornal com bom aspecto.
Amanhã é o Público que sai novo, pela mão do Não-Me-Chega-Fazer-Um-Jornal-Bonito,-Deixem-me-Fazer-Outro Mr Mark Porter. Estamos nós, o país do buço, preparados para dois jornais bem feitos? Não me parece. RC



you can go out, dancing
and i'll write about you, dancing without you
and i shed a tear between my legs







Sabem-se agora nomes das músicas de Release the Stars.

01 Do I Disappoint You
02 Going to a Town
03 Tiergarten
04 Nobody's Off the Hook
05 Between My Legs
06 Rules and Regulations
07 I'm Not Ready to Love
08 Slideshow
09 Tulsa
10 Leaving for Paris
11 Sanssouci
12 Release the Stars

Conhecem-se já (e apreciam-se ferozmente) as faixas 04, 10 e 11.
E se calhasse de eu o trazer do mundo?* Hó-hó. RC

*[CORRECÇÃO ÀS 1:29: Não vai calhar porque sai só no dia 15. 15 de maio.]









(as perguntas foram retiradas das actas por se intuírem : sessão primeira)

DRAMATIS PERSONÆ

1 : Éramos, sim. Na altura eu teria dezassete, quase dezoito anos, e ela tinha acabado de fazer dezasseis. Namorávamos há mais ou menos três, quatro meses, não sei bem. Ela disse-me que estava grávida logo soube. Foi o que ela me disse. Ela disse que comprou um daqueles testes e que fez tudo sozinha e que, na altura em que me contou, mais ninguém sabia de nada. Depois disse-me que tinha contado à mãe. Não, eu não conhecia os pais da Mariana na altura. Exacto, conhecemo-nos depois. Pelo que ela me disse —e é só isso que sei dizer— a mãe tinha ficado até muito calma para o que ela esperava e teria-lhe prometido que a ajudava no que fosse preciso. Na altura eu estava a acabar a escola e ia começar a trabalhar. Não, não trabalhava. Ia trabalhar numa oficina que já me tinham prometido trabalho. Não sei, eu depois acabei por ir trabalhar para outro lado, mas por volta de quinhentos, seiscentos euros. Sim, a Mariana sabia disso tudo mesmo antes do que se passou. Ela ia acabar a escola também —acho que daí a dois ou três anos— mas queria continuar a estudar. Sim, chegámos a conversar sobre isso. Não sei dizer, nem ela sabia, acho eu, mas qualquer coisa de números. Ela na altura era boa aluna a números. Falou-se em ela ter de começar a trabalhar quando ela disse o que se passava. Ela não sabia o que fazer. Não, a principio não, nunca ela falou disso comigo. Só uns dias mais tarde é que isso apareceu. Sim, tenho que foi a mãe que lhe meteu isso na cabeça, mas a mãe disse-me sempre que não, e que não teve nada a ver com isso. Não sei, se quer que lhe diga não sei.

2 : A minha relação com a minha filha sempre foi muito boa. Eu nunca lhe escondi que também tinha feito mal e ela sabia disso e confiava em mim. Tenho trinta e quatro anos. Sim, tive a Mariana com dezasseis. Não, claro que não, então nós pouco sabíamos. Na altura o meu marido —casámos um ano depois— já trabalhava, e eu comecei a trabalhar mal a miúda começou a andar. Foram, foram anos difíceis. O meu pai pôs-me fora de casa, e a minha mãe tapou os ouvidos e foi enfiar-se no quarto. Nunca mais falei com o meu pai. A minha mãe veio uma vez ver a Mariana e depois também nunca mais a vi. Uma tia, quem me ajudou nos primeiros tempos foi uma tia, irmã da minha mãe, mas depois também deixou de me falar. Sim, a família do meu marido é que nos segurou, e uma irmã dele, mais velha. Ele tinha vinte, vinte e um anos na altura. Não, eu nunca disse nada disso à Mariana. Pensei, mas nunca disse. Era o melhor que ela tinha a fazer, sem dúvida nenhuma, mas nunca lhe disse nada. Porque ela ia estragar a vida dela. Não foi isso que eu disse, eu nunca disse que a Mariana me estragou a vida, e principalmente nunca lho disse a ela. Às vezes, sim, às vezes penso no que podia ter feito se não a tivesse tido. Sim, eu cheguei a pensar nisso. Ninguém. A minha cunhada. Sim, foi ela que me disse que desmanchasse. Disse-me que havia uma parteira no bairro que tratava desse tipo de coisas, e toda a gente sabia o que ela fazia e ninguém fazia queixa de nada. A minha cunhada disse-me que se arranjava tudo, que se marcava o desmancho e que numa manhã ficava feito. Nunca me disse, mas sim. Chegámos a falar disso algumas vezes, sim, ela teimava que era o melhor tanto para o irmão como para mim, e que se acabavam logo uma série de problemas. Não sei, devia estar de três, quatro meses, por aí. Cheguei, já lhe disse que sim. Por causa do meu marido, foi por causa dele que não desmanchei. Ele dizia que tudo se havia de resolver e que ele trabalhava mais o que fosse preciso e que nunca pensasse sequer nisso. Marcámos, melhor, a minha cunhada marcou. Não consegui. Fui, fui lá mas não consegui.

3 : Não sei, só cerca de uma semana depois é que soube. Foi, foi a minha filha que me disse. Contou-me que tinha falado com a mãe. Não, a minha mulher não me tinha dito nada. Gritei-lhe, quando me contou gritei-lhe. Disse-lhe, não sei, disparates, o me ocorreu. Depois fui falar com ela, nessa noite, e disse-lhe que estava tudo bem, que podia contar connosco. Estava, eu estava disposto a ajudar no que fosse preciso, tanto eu como a mãe dela estávamos completamente prontos a fazer o que fosse preciso. Não, só o conhecemos depois, a Mariana achou melhor não o levar lá. Percebo perfeitamente. Não, acho que nunca pus mais culpas no garoto do que na minha filha, talvez, não sei, talvez ele devesse saber melhor. Não posso falar, não sei, isso ela nunca me disse. Não sei, mesmo. Não, tudo o que ela me disse —ela estava muito confusa, atrapalhada— foi que não sabia o que fazer. Ela costumava vir a mim quando não sabia o que fazer. Sim. Ela disse que queria continuar a estudar mas que agora já não sabia como é que isso ia ser, se ia trabalhar ou se ia deixar a escola e voltar mais tarde, não sei, nem ela sabia nem eu sabia, sinceramente, o que lhe dizer. Ela sempre quis fazer qualquer coisa de contabilidades, negócios, esse tipo de estudos. Eu queria que ela continuasse a estudar. Não, mas nunca lho disse. Sim, foi ela, foi ela que falou primeiro em poder abortar. Não acho que ela tenha falado disso com a mãe, não. Com o garoto, sim, mas com a mãe não. Não sei porque terá ela vindo falar disso antes comigo. Na altura acho que não lhe disse nada, acho que fiquei sem saber o que dizer. Não, nunca mais falámos sobre isso.

(sessão segunda)

2 : Eu nunca lhe disse que desmanchasse. Pensei, pensei nisso mais do que uma vez, estive quase para lhe dizer isso de uma das alturas, mas não. Porque me lembrei da parteira do bairro, sei lá, porque me lembrei do sofá em casa da parteira. Ela tinha um sofá numa sala, a primeira sala onde entrámos, e a sala tinha só um sofá, encostado a uma parede, e lembro-me de um crucifixo de madeira pregado na parede. Não acho que tivesse mais nada, não me lembro bem mas acho que era isto que disse. Via-se bem quando se entrava na casa que ao lado desta sala que falei agora havia outra sala, com um bom sofá e uma boa mesa, que era a sala em condições onde a parteira comia e, pronto, fazia vida. Essa sala boa tinha a porta fechada, e de resto a casa toda era breu, completo, todas as janelas estavam de persianas corridas. Havia, lembro-me agora, uma lâmpada nessa tal sala só pendurada do tecto, mais nada. Cheguei a sentar-me nesse sofá durante, não sei, cinco, dez minutos. A parteira estava, disse-me a minha cunhada, a ferver panelões de água. Eu estava lá à espera com a minha cunhada, que me foi contando como é que aquilo se fazia. Portanto, os desmanchos eram feitos num outro quarto, e as mulheres eram levadas para lá onde a parteira desfazia o bebé, e isso dependia de quantos meses estivesse cada mulher, mas o sistema parece-me que devia ser o mesmo para todas, eu sinceramente fiz por me esquecer e preferia até não ter de falar disso, se isso não se importar. Depois, disse-me a minha cunhada, as mulheres voltavam para a sala do sofá, para se deitarem. Por causa do desmancho, sim, e por causa de qualquer sangramento que pudesse ainda acontecer por via do desmancho. Só quando ela me disse isso é que eu entendi por que via estava o sofá todo manchado. Tinha várias nódoas de sangue. Sim, sangue seco. Algumas delas tinham sido —notava-se que tinham sido— esfregadas com sabão, e notava-se até o desbotado no pano, mas outras não, outras tinham ficado, tinham secado e assim ficaram. Foi aí que eu não consegui mais e foi aí que me levantei e saí dali para fora.

1 : Disse, disse tudo aos meus pais e eles disseram que ajudavam no que pudessem ajudar. Sim, conheciam-na, cheguei a levá-la a minha casa uma ou duas vezes antes disto. Eles ficaram como ficámos todos. Não, para falar muito a sério nunca ninguém chegou a pensar que ela fosse com isso para a frente. Foi, foi um abalo para os pais e foi um abalo para mim, claro que foi. Não, não acho que ela tenha pensado bem no que ia fazer. Acho que ela falou com duas ou três amigas lá da escola. Não sei quem são, nunca as conheci. Não me parece que tenham sido elas a enfiar-lhe isso na ideia, não, tenho para mim, como já disse, que foi ou a mãe, ou então alguém da família. Exacto, nunca a ouvi falar disso nos primeiros dias, mas a partir de uma certa altura começou a dizer que era a única solução, que levar o filho até ao fim a ia tirar da escola, que nunca mais ia poder estudar como sempre disse que queria, a partir de certa altura de cada vez que falava só dizia esse tipo de coisas. É o que eu acho, alguém lhe meteu aquelas ideias na cabeça de tal maneira que ela não conseguia pensar em mais nada. Tentei, tentei várias vezes tirar-lhe isso da ideia. Porque me fazia impressão, não sei, porque me parecia mal feito. Mas também sempre lhe disse que se era isso que ela queria fazer que estava com ela a cem por cento, e que apoiava o que quer que fosse que lhe parecesse bem. Eu dizia-lhe sempre o que me parecia que ela queria ouvir. Porque sentia que não podia fazer mais nada senão isso. Se ela se achava cada vez mais sozinha à medida que passava o tempo —não sei quem lhe disse isso, ela a mim nunca me disse nada— não foi concerteza por minha culpa, que fiz tudo o que podia como podia. Eu fiz o que pude. Não, não acho que ela conseguisse —que conseguisse não, que se atirasse a— decidir isso de vez sozinha. Não, a Mariana não. Era uma criança. A Mariana era uma criança.

(sessão terceira)

2 : Não podia, não podia dizer à minha filha que desmanchasse se tudo isso ainda são parteiras e sofás sangrados, não podia, nunca podia, assim nunca podia. Ela começou a falar disso, alguns dias depois de me ter contado, e eu nunca cheguei a saber de onde tirou ela isso, se foi do rapaz ou de onde foi, ou das colegas, mas de mim está claro que não foi. Eu sabia que não podia dizer-lhe que fizesse isso e vê-se nítido porquê. O meu marido viu-se muito em baixo quando isto aconteceu, até mais do que eu nos dias logo a seguir, mas depois tem sido ele que me tem segurado. Não sei, ele é menos rijo que eu, porventura. Mas se calhar —muito quase de certeza— por causa da irmã. A irmã do meu marido, a minha cunhada, foi por causa de um desmancho que morreu. Não sei o que se passou, nunca chegámos a saber o que se tinha passado, telefona-nos a parteira um dia que lhe fôssemos a casa, chegámos lá estava ela esvaída em sangue, disse a parteira que foram complicações, que já não era o primeiro que ela fazia e que isto não eram coisas para se fazerem todos os dias. Chamou-se uma ambulância, a parteira disse-lhes o que tinha para lhes dizer, e certo é que nada se ficou a saber, todo o bairro até hoje julga que foi um acidente qualquer de rua e assim fizeram os médicos e assim ficaram os polícias. Não, ninguém sabia disto, a não ser eu e o meu marido, e é certo que a Mariana não sabia disto. Por mim não sabia, e pelo pai também não. Sim, acho que o rapaz tem razão, ela sozinha não se metia a fazer isto. Alguém —é o que lhe digo— alguém ou alguma coisa lhe meteu isto na ideia. Eu não fui. Pelas minhas santas se fui eu.

3 : A minha irmã morreu numa passadeira. Estava a atravessar uma rua —não sei precisar qual, vai-me desculpar— e passa-lhe um carro por cima. Foi isto mesmo como acabei de contar. Vi a minha filha nesse dia de manhã. Sim, vinte e dois de agosto. Nada de estranho, saí de casa cedo para ir trabalhar e ela ficou em casa. Sim, sozinha. Não sei, isso não sei dizer, talvez três meses, por volta de três meses. Ela contou-nos três semanas, se calhar um mês antes. Fui eu que cheguei a casa primeiro. Eram cerca de cinco, cinco e meia. Sim, fui eu que a encontrei. Quando entrei em casa ouvi uma torneira a correr, e fui ver onde era. Na casa de banho. Encontrei a Mariana dentro da banheira, desmaiada, e a sangrar. Muito. Não consegui ver, na altura não consegui ver bem, pareciam espetos ou qualquer coisa desse tipo. Os médicos disseram depois que eram agulhas, duas agulhas a que ela —julgamos nós que ela— cortou as pontas com um alicate. Chamei uma ambulância, imediatamente, tentei ainda ver se a conseguia acordar mas não consegui. A minha mulher chegou quando os paramédicos estavam a chegar também. Não, ela já não a viu lá. Eu senti-me, não sei como dizer, vazio. Sim, vazio. Não estou a perceber o que quer dizer. Não, eu não menti sobre a morte da minha irmã. Eu não tenho, como compreende, nada a ver com qualquer testemunho da minha mulher, o que eu disse aqui foi a verdade e a única verdade que existe. Não sei por que razão haveria ela de inventar uma história dessas. Não, nunca eu disse à minha filha que abortasse. Não sei quem terá dito, provavelmente o garoto. A única coisa que eu lhe disse foi que só tivesse o filho se quisesse. Sim, talvez lhe tenha dito que só tivesse o filho se quisesse estragar a vida duma vez, sim, disse-lhe isso. Não consegui, não conseguia nunca ver a minha criança com outra nas mãos, sem lhe saber pegar, sem saber o que lhe fazer. Talvez lhe tenha metido na cabeça que abortasse, sim, talvez tenha sido eu. Fui eu, concerteza fui eu, mas nunca pensei que fosse com isso para a frente. Nunca pensei que ela se enfiasse de agulhas e que se desfizesse criança outra vez. Nunca a julguei capaz, a minha criança nunca. Fui eu, a minha criança nunca. RC



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Heute. RC





E se o mundo rodasse ao contrário, de trás para a frente, e o sol nascesse onde costuma matar-se e morresse onde costuma nascer, o que é que mudava por causa disso?
trocavam-se os sítios por onde voam os pássaros, que começavam a voar ao revés, com a terra por cima da cabeça e o resto tudo por baixo?
mudava a direcção em que crescem as árvores, começavam elas a encher-se de flores e de frutos debaixo do chão, e a desabrocharem de raízes para cima? revia-se o sentido em que se mergulham os mares, e reviravam-se os peixes onde eram nuvens e as nuvens onde eram peixes, e os barcos enchiam-se de água para não tombarem?
passavam os carros a rodar do lado esquerdo, em marcha-atrás sempre e em cuidados para não se deixarem atropelar pelas pessoas, ou andavam as pessoas nas ruas e os carros nos passeios, agora que as ruas são passeios e os passeios são ruas?
desciam os prédios cada vez mais fundo, e viviam as pessoas nos tectos ao lado dos candeeiros?
e por cima do chão, entrelaçavam-se os canos e os tubos e os fios? RC



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Morgen.





Andrew Bird (ahem ainda não se pode ahem) é grande. RC



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

(O Tannenbaum, o Tannenbaum wie grün sind deine Blätter)



É em alturas assim que a igreja se junta toda e vai buscar o conta-gotas ao estojo de química. RC




[clicar na imagem]



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Rezept
Receita,
Kartofflenzalat
Salada de batatas:

1 kg Kartoffeln, 1 Tasse Fleishbrühe, 2-4 Esslöffel Öl, 1 Esslöffel Essig, 1 kleine Zwiebel, Salz und Pfeffer
1 kg de batatas, 1 chávena de caldo de carne, 2-4 colheres de azeite, 1 colher de vinagre, 1 cebola pequena, sal e pimenta

Die gekochten, warmen Kartoffeln schälen und in Scheiben schneiden. Öl, Essig, warme Fleischbrühe und die Gewürze zugeben. Vorsichtig mischen und ziehen lassen.
Tire a pele às batatas cozidas ainda quentes e corte-as às rodelas. Junte o azeite, o vinagre, o caldo quente e os condimentos. Mexa com cuidado e deixe repousar.

Depois admiram-se que eles falem assim.



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Thomas Bernhard:

In meiner Hauptstadt ging ich schlafen, wenn der Tag aufstand
mit seinem zerfurchten Gesicht und die Milchmänner
schwiegsam ihr Tagwerk begannen, wenn die Kinder aufschreckten
in ihren verweinten schmutzigen Bettgestellen
und wieder zurückfielen in die Nacht,
die ihr junges Fleisch liegen leiß.
(...)
(Na minha capital, ia-me deitar quando o dia se levantava
com o seu rosto enrugado e os homens do leite
começavam em silêncio o seu trabalho, quando as crianças se assustavam
nas suas camas sujas e húmidas de lágrimas
e recaíam na noite,
que deixava ficar deitada a sua carne jovem.)



Eu julgava que por agora já sabia uma ou duas coisas sobre livros. Talvez por ler alguns todo o tempo. Verifica-se afinal que não. Há livros mentirosos. Livros que se sorriem todos no primeiro parágrafo e depois vai-se ver e mataram a mãe e o pai e nem vão à missa nem nada.
Alguns posts mais abaixo fiz o louvor (meu deus que sei eu da vida?) do livro Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, pela maneira como começava. Atirei todo lampeiro que nunca um livro a começar assim poderia descambar.
Meu deus. O segundo parágrafo começa já a fazer-se mau. O terceiro tem palavras de jardim infantil. Chegamos ao quarto e já as palavras começam a tossir melaços pegajosos amarelos. À segunda página (não me peçam rigor que isso obrigava a ir rever e o livro arde-me as mãos) o texto contém já umas três comparações, todas elas intoduzidas (como não?) pela partícula como, que são as crianças a explicar as coisas. Surge (meu deus) por essa altura o primeiro ponto de exclamação, isso só já razão para montar Nuremberga outra vez. E depois, vinda no autocarro dos infernos, uma expressão declarativa onde se lê pensou Mylia, divertida. Desfaçam-se o céu e a terra. Pensou Mylia, divertida. A palavra (refluxo) divertida (refluxo) deixou de se usar no dia em que aprendemos todos a apertar os cordões.
Aceito que esta matriz de texto possa ser a caracterização desta moça, e que outros personagens mereçam narrações em termos, mas haver uma só destas já é suficiente.
Preparo-me para, primeira vez, devolver um livro. Tomem-no. Fiquem-me por deus com ele. Está prenho de espíritos maus e ri-se de noite para mim. Que esta recensão se leia melhor que o livro é argumento bastante e conclusivo.
Peço desde já desculpas pelo catrapam ocorrido. Seguem os livros (e faz-se a purificação) com Calvino. RC





( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Isto está a ficar estranho:

Morgens schlafe immer ich bis acht Uhr.
De manhã durmo sempre duas vezes com o Artur. RC



A melhor maneira de dizer porque é que este livro me doeu é talvez não saber dizer porque é que me doeu.
(Hein?)
Benvindos a Kundera. RC

Nome: The Unbearable Lightness of Being
Autor: Milan Kundera
Formato: 305 páginas
Dimensões (em centímetros): 2,1 x 19,7 x 12,6
Data de publicação: [s.d] (1ª ed., 1984)
Assuntos relacionados: Corpo, Alma, Palavras, Leveza, Peso, Silêncios, Verdade, Sorrisos.
Descrição: Um livro assumido sobre pessoas a fingir mas que são na mesma.
Tipos de letra: ?
Dedicatória: Não

( part i | part ii | part iii | part iv | part v | part vi | part vii )




[Tereza e Karenin]

Kundera é dos que nos quer ganhar só no fim. E ganhou. RC >>




número1 (pdf)

Graficamente parece-me um trambolhão, mas leia-se e fale-se depois. RC



( ----Februar.07: Deutsch in einem Monat )

Hoje:
1. As horas

Wie spät ist es?
Quão tarde é?
Es ist fünf nach halb neun.
São e trinta e cinco.

(NOTA: Serve esta formulação também para quando se procura alojamento num hotel:

Es ist Viertel vor drei.
É um quarto para as três.)

2. Cidades

München und Köln sind größe Städte.
Munique e Colónia, txii, é só povo. RC



TAVARES, Gonçalo M. - Jerusalém. Lisboa : Editorial Caminho, 2005. €11,34

Que livro pode descambar depois de começar assim?

Ernst Spengler estava sozinho no seu sótão, já com a janela aberta, preparado para se atirar quando, subitamente, o telefone tocou. Uma vez, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, Ernst atendeu.

Nenhum.



Mark Thomas I know the Bishop has gone into quite a lot of trouble about this, whether Jesus was spiritually resurrected or whether he was physically resurrected, and as a Buddhist I desagree with him because I thing he was physically resurrected, I'm just not sure which species he came back in. That'd be great, you're sitting in a restaurant and
— Waiter, there's a fly in my— good god, it's wine.
in The Mary Whitehouse Experience (Radio), series one, episode one.


Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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