Eu julgava que por agora já sabia uma ou duas coisas sobre livros. Talvez por ler alguns todo o tempo. Verifica-se afinal que não. Há livros mentirosos. Livros que se sorriem todos no primeiro parágrafo e depois vai-se ver e mataram a mãe e o pai e nem vão à missa nem nada.
Alguns
posts mais abaixo fiz o louvor (meu deus que sei eu da vida?) do livro
Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, pela maneira como começava. Atirei todo lampeiro que nunca um livro a começar assim poderia descambar.
Meu deus. O segundo parágrafo começa já a fazer-se mau. O terceiro tem palavras de jardim infantil. Chegamos ao quarto e já as palavras começam a tossir melaços pegajosos amarelos. À segunda página (não me peçam rigor que isso obrigava a ir rever e o livro arde-me as mãos) o texto contém já umas três comparações, todas elas intoduzidas (como não?) pela partícula
como, que são as crianças a explicar as coisas. Surge (meu deus) por essa altura o primeiro ponto de exclamação, isso só já razão para montar Nuremberga outra vez. E depois, vinda no autocarro dos infernos, uma expressão declarativa onde se lê
pensou Mylia, divertida. Desfaçam-se o céu e a terra.
Pensou Mylia, divertida. A palavra (refluxo)
divertida (refluxo) deixou de se usar no dia em que aprendemos todos a apertar os cordões.
Aceito que esta matriz de texto possa ser a caracterização desta moça, e que outros personagens mereçam narrações em termos, mas haver uma só destas já é suficiente.
Preparo-me para, primeira vez, devolver um livro. Tomem-no. Fiquem-me por deus com ele. Está prenho de espíritos maus e ri-se de noite para mim. Que esta recensão se leia melhor que o livro é argumento bastante e conclusivo.
Peço desde já desculpas pelo catrapam ocorrido. Seguem os livros (e faz-se a purificação) com Calvino.
RC
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