do latim cagliamasce, que eram os livros maus com que se reacendiam lareiras.







MARÍAS, Javier - Miramientos. Barcelona: DeBolsillo, 2007. €7,95



MARÍAS, Javier - Vidas escritas. Barcelona: DeBolsillo, 2007. €8,95



Soprava um vento de vai tudo pelos ares na escala de beaufort. O mar estava um desarrumo de ondas, o céu era uma nuvem só, e o chão respirava de chuva. Desde que há tempo que não estava um tempo tão estúpido como estava no dia em que o Presidente do Comité para se Decidir que Tempo é que Está se chegou à frente e disse
― Já chega
disse ele, e ainda aproveitou para acrescentar que
― isto de estar mau tempo está aqui está a fornicar-me com os nervos
já se sabe o que é que o mau tempo faz ao vocabulário das pessoas
― todos os dias vem alguém ter comigo a queixar-se que de ano para ano está cada vez pior e eu
ele
― na qualidade de pessoa que decide acho que é o meu dever comunicar a toda a gente que o tempo que está acabou-se
as árvores pararam de abanar por um instante
― a partir de hoje e durante o tempo que me apetecer vai acontecer que eu
ele
― vou pegar no tempo que está e vou trocar tudo
a chuva tropeçou-se a meio do caminho
― chega
não sabia se havia de cair o resto ou o que é que havia de fazer
― há gente que lhes neva em cima o ano todo e há gente que o ano lhes é um sol só
apesar do irritado das frases estavam as pessoas a ouvi-lo e a dar-lhe razão
― e isso quer me parecer que não tem jeito nenhum
porque a verdade é que ele tinha de facto razão
― por isso é só para avisar que se amanhã acordarem e estiver tudo mudado, não vale a pena ninguém vir com coisas para cima de mim que quem manda sou eu
ele
― um bem-haja muito grande
e não disse mais nada, ajeitou o cachecol no sítio, engoliu-se pelas golas do casaco, fechou o frio do lado de fora e entrou outra vez no edifício onde estava a sala de tomar decisões, que tinha um mapa do mundo do mundo todo e uma série de ponteiros e canetas que esticam e outras coisas para apontar, não fosse dar-se o caso de ser preciso indicar qualquer sítio lá longe ou muito em cima onde já não se chega com os dedos faça-se a força que se fizer. A história do tempo que está desde que há Terra conta-se em meia dúzia de linhas, visto que houve pelo menos para aí umas quatro vezes ―dizem as pessoas de mais idade― em que isto estava impossível com o frio que era, o planeta era um cubo de gelo só ―e se não era é porque euclides não deixava―, mas depois lá derreteu tudo, o gelo encolheu-se só lá na parte de cima e na parte de baixo, o resto eram sítios onde afinal até se podia estar, e se alguém perguntar em que ponto é que nos temos agora dizem os cientistas que pelos vistos estamos ainda a descongelar da última vez, e que mais ano menos ano isto fica no ponto. No entanto há que não esquecer que os cientistas do tempo que está são a mesma gente que pegou nas nuvens do céu e lhes deu aqueles nomes todos esquisitos conforme o aspecto e dependendo de se elas se têm acima ou abaixo dos pássaros e se se apresentam mais ao alto numa espécie de amontoado ou não, o que faz com que se possa facilmente dizer e sem arriscar muito que a meteorologia é uma das ciências de arranjar nomes para coisas que não precisam de nomes. Depois há ainda que considerar que há anos que calham mais quentes e outros que calham mais frios, que a chuva quando cai é geralmente de cima e que um dia de sol ―parecendo que não― é todos os dias, e qualquer outro comentário sobre o tempo que está é tão absolutamente aleatório e tão empírico na sua demonstração que vir de repente alguém mudar tudo de uma ponta à outra podia espontaneamente acontecer mesmo que não viesse de repente ninguém mudar tudo de uma ponta à outra, apesar de desta vez
― Bom dia
ter havido de facto gente por trás disto
― eu e a minha equipa de decidir o tempo que está estivemos reunidos toda a noite a pensar neste assunto e quer me parecer que chegámos a uma solução que não está nada mal não senhor
aparentemente estava tudo na mesma quando se olhava pelas janelas, o Presidente do Tempo que Está escusava-se no entanto à gabardina apesar da chuvarada que tombava lá fora e por isso começaram todos a torcer-se pelos narizes
― deixem-me então explicar como é que correram os trabalhos
disse ele
― e o que é que nós resolvemos
um encontrão nos óculos que escorregavam, dois rearranjos na gravata e três relampejos de tosse
― como já se devem ter apercebido todos o tempo que está não é igual em todo o lado
atrás dele alinhavam-se uma mão e meia de sujeitos
― e além disso nem sequer é igual de um dia para o outro e tanto isto como a outra coisa que eu disse antes já não é de agora
deles só se sabia que eram cientistas do tempo que está e que se tinham todos engelhados de sono, e pelas caras que levavam postas dava nitidamente para ver que a noite tinha sido uma sessão de intensa reflexão e provavelmente cheia de cálculos e assim, como são aliás de uma forma geral as coisas que os cientistas fazem e que depois enfeitam com contas estranhas para ninguém ter coragem de discordar
― eu pedia que me ligassem o projector para eu poder mostrar alguns dos resultados a que chegámos
um dos cientistas do tempo que está abalou da linha para ir ligar o aparelho, e num botão ligou-se na parede uma luz cheia de números
― obrigado sven
disse ele
― e como dá para ver pelos valores e principalmente por aqueles que têm um menos atrás
diapositivos seis sete e oito, desdobramentos insuportáveis dos expoentes de lyapunov e depois dez e onze
― o que se pode dizer e com alguma segurança é que o tempo que está é de uma forma global uma trapalhada e por isso deixámo-nos de contas e decidimos abordar o problema de outra maneira
um dos cientistas do tempo que está desligou o aparelho
― obrigado sven
disse ele
― a propósito permitam-me que vos apresente o meu colega o doutor sven ødegård que é chefe do departamento da ciência do tempo que está da universidade de oslo
a cabeça de cabelo em tons de muito claro do sujeito apontava de facto para isso
― além de ser uma das pessoas que mais percebe destas matérias
estava claramente a passar-lhe a mão pelo pêlo
― e além de ter escrito aquele que eu tenho para mim como o mais definitivo ensaio sobre a questão da física de nuvens
e ele a gostar
― foi também pode dizer-se o verdadeiro impulsionador disto novo que aí vem por isso uma grande salva de palmas
a sala ensaiou algum entusiasmo
― eu acho até que era melhor ser ele a explicar o que é que vai acontecer e já agora a fazê-lo com o máximo de detalhe
olhou para trás, com a cabeça fez sinal ao doutor cientista do tempo que está que se chegasse à frente, a medo era vê-lo deixar a linha e aproximar-se do microfone, nunca ninguém tinha visto este sujeito na vida e daí tirarem-se-lhe o maior número de fotografias possível, era potencialmente alguém importante e se não era passava a ser, o senhor doutor estrangeiro defendia-se das luzes com uma mão enorme, todo ele era aliás muito grande mas os flashes encolhiam-no tão pequenino, e quando finalmente se teve ao lado do Presidente do Tempo que Está, que lhe apertou a mão numa macacada de protocolo e sempre a gozar com o povo das máquinas, a cara do cientista finalmente abriu-se em duas, a coluna das costas esticou-se, e o colega chefe só teve tempo de dizer
― por isso qualquer pergunta que tenham dirijam-na aqui ao doutor sven
aplicou-lhe uma palmada nas costas
― que eu infelizmente vou ter de me ausentar
olhou para o relógio
― já
e apertou mais uma vez a mão ao doutor estrangeiro, despediu-se com a cabeça do resto da equipa, e com dois passos de cada vez pôs-se num segundo na porta, olhou para o projecto de dilúvio que se experimentava lá fora, e o aconteceu depois disso pouca gente percebeu, mas quem diz que percebeu diz que o que se passou foi que ele tirou do fundo do bolso uma das mãos, a direita parece ter sido, desempoeirou a inércia da dita com uma ginástica de tendões, olhou para ela como se contasse os dedos, e às tantas satisfeito com a soma esticou o braço acima do corpo, parou cinco segundos quieto, e produziu um estalido de dedos que só não foi menos dramático porque à custa dele a chuva que caía lá fora deixou de cair, esfumaram-se as nuvens do tecto, e mesmo a água que estava no chão parece que veio o sol e num instante a engoliu toda, a verdade é que estivesse a arca quase pronta e tinha sido um desperdiçar tolo de madeira, e quando viu que o tempo que estava se tinha finalmente em termos abriu a porta e saiu sem sequer olhar para trás, de tal maneira que na sala ninguém arriscou reagir fosse como fosse, ou pelo menos até chegarem à conclusão que a maneira conveniente de reagir era provavelmente entulhar o sven de perguntas, que a única coisa que conseguiu dizer foi
― Um de cada vez se fazem o favor
e se o objectivo era calá-los a todos então fiasco para o objectivo, a sala continuava numa atrapalhação de perguntas mal feitas, e daí mudança de estratégia
― afinal eu vou falar antes e depois fazem as perguntas que quiserem
a sala queria lá saber o que ele estava a dizer
― está bem assim?
a sala continuava a preferir o sistema das perguntas porque mais facilmente fica a pessoa que responde toda trocada ―e nada resolve melhor uma questão que duas respostas diferentes―,
― estamos bem assim ou não estamos?
mas a verdade é que desta vez a sala queria mesmo saber o que estava a acontecer, e por isso gradualmente teve-se cada vez mais calada, o sven
― obrigado
disse ele
― hmm
estava visivelmente entupido o sven
― o meu nome é doutor sven
peço desculpa o doutor sven
― ødegård
certo
― e o que acabou de acontecer
dois soluços de tosse de nível três na escala de mercalli modificada
― hmm
visivelmente entupido
― foi que o tempo que está acabou de sofrer algumas
e o mais certo era ser a primeira vez que ele se tinha assim a falar para muita gente ao mesmo tempo
― hmm
visto que se estava a espalhar ao comprido
― alterações
e ninguém na sala estava a perceber nada daquilo de qualquer maneira
― se calhar a melhor maneira de explicar isto é que nós trabalhámos segundo um esquema de
qual é a palavra?
― inversão se quiserem
ah é isso é
― ou seja a lógica utilizada foi basicamente a de
estava a começar a controlar isto o sven
― hmm
ou então não
― foi basicamente a de espalhar bom tempo nos sítios onde por norma o tempo que está é uma miséria
a sala continuava toda completamente a leste, cada pessoa que ali estava tinha a cara numa ruga só, e o senhor doutor estrangeiro a reparar nisso e a sentir-se melhor
― e vice-versa obviamente
― Desculpe
alguém interrompeu o sven
― então países onde o tempo que está é de uma maneira geral mau
― Pois nós preferimos dizer
o sven a contrainterromper
― sítios onde o tempo que está é uma tristeza
a contrainterromper e a não dizer nada de jeito
― é que em termos académicos o adjectivo mau desobedece a uma série de parâmetros de objectividade que nós os cientistas do tempo que está temos de
― Sim seja como for
o mesmo alguém interrompeu o sven outra vez
― Respeitar
― Então países onde o tempo que está é mau passam agora a ser ―não sei se o termo que vou usar é cientificamente válido mas vou usá-lo à mesma― uma maravilha?
a pergunta era perfeitamente clara e por isso o sven não sabia o que fazer, alguns segundos depois lá arriscou que
― Sim pode dizer-se que sim
completamente a medo falou o senhor doutor estrangeiro do tempo que está, quase como se adivinhasse que o outro sujeito a seguir ia dizer que
― Como a noruega?
a sala cresceu-se nas cadeiras mas foi só a sala porque o sven encolheu-se todo
― Hmm
assustadoramente entupido o sven
― e os outros também
ou seja o que ele queria dizer é todos aqueles países lá mais em cima onde já não se chega com os dedos faça-se a força que se fizer, e daí os retesamentos de metal a saírem do meio da mão, e onde ele geralmente estacionava o carro para ir trabalhar e à volta do trabalho à porta de casa também, que até ontem respondiam à filosofia do frio no que diz respeito aos casacos que se veste em cima de outros casacos, eram a partir de hoje
― repare isto é uma questão de justiça
pois, seja como for, eram a partir de hoje sítios de sol
― anos e anos de gelo parece-me a mim e de certo modo à minha equipa que merecem algum tipo de compensação
disse ele, a equipa não era dele mas tudo bem
― e foi esse o critério que seguimos
― Como a noruega
o mesmo alguém
― Sim como a noruega
disse o sven, os restantes cientistas do tempo que está encontrassem um buraco qualquer e era vê-los a enfiarem-se por ele adentro, o facto é que não era preciso procurar muito porque em termos de ética profissional este projecto havia de estar cheio deles e por todos os lados
― E os outros sítios?
outro alguém
― Como assim outros sítios?
fez-se de parvo o sven mas de pouco lhe valeu
― Os sítios onde é calor
sim cresceu-se de cantos a sala, os sítios ali pelo meio onde até ontem se estava bem
― Hmm
e onde a maior parte das pessoas que há estavam neste preciso momento numa praia qualquer algures a desafiar o sol para um concurso de estupidez
― nesses sítios vai nevar
― O quê?
duas ou três pessoas chegaram a levantar-se
― Provavelmente por esta altura já está a suceder pelo menos uma saraivada ou outro qualquer fenómeno de características semelhantes
ou seja choviam calhaus de frio queria dizer o sven, insurgiram-se mais quatro ou cinco pessoas
― é importante no entanto que se diga que isto é só a primeira fase do processo
isto nem os outros cientistas do tempo que está sabiam o que queria dizer
― eventualmente
disse ele
― vamos chegar a um ponto em que o equilíbrio em termos climáticos foi de facto atingido e podemos então dar início a uma solução que
não estava a convencer ninguém com isto o sven
― hmm
nem a ninguém nem a ele próprio
― seja do agrado de toda a gente
o que queria basicamente dizer que há de haver um dia em que vai estar calor por todo o lado, mas em doses controladas por uma série de pessoas com cursos que lhes dêem a autoridade para controlar esse tipo de coisas
― E isso é para quando?
o mesmo outro alguém de antes
― Neste momento não sei dizer
visivelmente entupido o sven, e provavelmente a razão pela qual ele não tinha assim de memória a data da passagem à segunda fase era porque não havia segunda fase nenhuma, e por isso esta tentativa de mais ou menos atropelar aquela gente toda numa esquina à traição foi constrangedoramente ineficaz porque eles por acaso até iam com atenção aos carros, ninguém gostou da resposta do senhor doutor estrangeiro e uma confusão de punhos só não lhe aterrou em cima porque antes que houvesse tempo para isso entra pela porta um impermeável com alguém lá dentro e esse alguém era o Presidente do Tempo que Está, nem tempo deu a ninguém para repegar nas máquinas já estava no palanque de olhos nas pessoas, a sala toda calou-se de repente, e
― Ora bem
disse ele
― isto foi de facto tudo muito giro e as pessoas estão sempre a queixar-se mas a questão é que eu vou pôr tudo como estava antes
devagarinho juntava-se o sven de volta à linha
― alguém tem alguma coisa a dizer?
perguntou ele, a sala até podia não ter ninguém pelo silêncio que se pôs
― é bom
e com a mesma treta de antes um estalido no meio do ar e desabou a chuva do céu como se nunca tivesse parado de cair
― de maneiras que
disse ele
― hmm
visivelmente satisfeito o Presidente
― o doutor sven pede desde já desculpas pelo catrapam ocorrido
disse ele, e saiu. RC



música que ainda não se pode
:

:
e que só se pode no dia 9 de outubro
...
pois claro que sim





possivelmente o homem mais tudo que há
:
e chega
:

:
happy bday dear stephen



i only have eyes for you : jamie cullum

are the stars out tonight? / i don't know if it's cloudy or bright / cos i only have eyes for you, dear / my love must be some kind of blind love / i don't see anybody but you // the moon may be high / but i can't see a thing in the sky / cos i only have eyes for you / and dear, i wonder if you find love / an optical illusion, too? // i don't know if we're in a garden / or on a crowded avenue / you are here, so am i / maybe millions of people go by / but they all disappear from view / i only have eyes for you / my love must be some kind of blind love / i don't see anybody but you



Ler (com algum cuidado) o Ípsilon de hoje
:
Bolas para a gente ter de aturar isto! Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. Estudem ciências, se estudam ciências; estudem artes, se estudam artes; estudem letras, se estudam letras. Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível. (FP)



- hei ó tu estás a pé?
(a sério que as pessoas falam mesmo assim?)
pergunta-me mr bishop lá para as dez da manhã
...
é tolinho é o que mr bishop é
obviamente que não estou a pé
- hmmm pronto está bem
ai pois está bem porque não tens outro remédio
não me parece que vás esperar que eu acorde à uma
pois não?
(ó cinco da manhã)
- então quando te puseres a pé
(não mas a sério que as pessoas falam mesmo assim?)
- ouve esta
[MP3] CocoRosie - Werewolf
- e esta
[MP3] The Dreamer and the Sleeper - Leaving the Hospital; I'm Going Home
- está bem?



heartburn : rufus wainwright

is this heartbreak, or is this heartburn? / have i been played, or do i need a rolaid? / gotta learn the difference 'tween i love ya, / the difference 'tween i love ya and the symptoms of ebola // is this heartbreak, or is this heartburn? / can i be spared from being so dramatic? / gotta learn the difference 'tween i love ya, / the difference 'tween i love ya and that derailed rollercoaster // gonna rain down on my sunny sunday shoes, / guess i best get some galoshes // let me tell you that this song's useful, / yes this song's useful when you're really drunk / and you gotta learn the difference 'tween i love ya, / the difference 'tween i love ya and whatever



oh mon doux christian de neuvillette





a sério
eu ando farto de escrever
farto nos dois sentidos que me ocorrem agora da palavra 'farto'
às tantas há mais mas são quatro da manhã
encolhe-se tudo a esta hora e as plurissignificações também
mas dizia eu que
a sério
eu ando farto de escrever
contos nascem-me dos cantos mais perversos da cabeça
as pessoas indignam-se que eu uso asneiredo e tudo
hmmm viva o provincianismo
seis vezes a palavra merda e vai ao senhor padre que te lave a boca
hmmm viva as aldeias que as pessoas constroem atrás dos olhos
enfim
existem agora dezanove
(um-nove)
espécie de coisos à base de palavras
e quero dezassete
(um-sete)
para potencialmente nunca ninguém lhes querer pegar
ora
dezassete existe dentro de dezanove
uma vez
diz que sim pelas regras da matemática
confirmam-no os dedos das mãos e dos pés
por isso de que estás tu à espera?
perguntam-me
anda lá manda isso para qualquer lado mexe-te andor vamos lá à minha frente
mas eu continuo a querer escrever pelo menos mais um ou dois
é
um ou dois
quanto a isto que há
preciso de mais gente que me diga coisas
menos que estão mal
isso não admito
...





j.a.f. : jared faren

some glasses sitting broken / on the table by the bed / i so badly want to pick them up / and look them through the lense / but if i do what will i see / the world in a light shone less clearly / or what you've seen / and where you've been / and things like they should be // i'll never look at my life / through a grandpa's eyes / i want to be the man you were / i want to see your unskewed view / but never will i know of life / what grandpas' eyes see through // the day i saw you in the hall / is burnt into my brain / the pain inside of losing you / was killing me the same /and then that night next to your bed / your hand held tight in mine / the final breath / your whispers left / in my heart and in my mind // i'll never look at my life / through a grandpa's eyes / i want to be the man you were / i want to see your unskewed view / but never will i know of life / what grandpas' eyes see through // the day i saw you cry / i was smashed from the inside / i need you here to hold my head / to help me stop this nonsense / tread on water, walk the sea / i need you here right next to me



olá pessoas que não ligam nenhuma a isto
:
isto anda uma miséria
já não escrevo nada de jeito aqui provavelmente desde o degelo
há dias em que nem sequer uma linha faço de conta
e isso nota-se depois nas receitas de publicidade que pura e simplesmente não entram
...
hmmm
...
o que se passa é muitas coisas
sendo que uma delas é que eu me encomendei uma empreitada de escrita bastante valente
e que tem de estar pronta na sexta-feira
sob pena de eu me fartar daquilo tudo se lhe continuo a pegar durante mais tempo
...
ora
isso significa que é bem capaz que nada aconteça por aqui durante esta semana
a ocasional fotografia do rufus e tal
uma cançoneta ou outra
misteriosas considerações sobre a pessoa mais bonita do mundo
etc
mas pouco mais
...
a gerência agradece a compreensão
...
hmmm
a gerência sou eu



Dia mais longo: 63 dias, 23 horas, 40 minutos (das 12:09 de 20 de maio às 23:18 de 22 de julho)
Dia mais curto: 45 minutos (das 11:42 às 12:27 de 24 de novembro)
Noite mais longa: 54 dias, 22 horas, 51 minutos (das 12:27 de 24 de novembro às 11:18 de 18 de janeiro)
Noite mais curta: 26 minutos (das 23:43 de 19 de maio às 00:09 de 20 de maio)



eu podia estar aqui com muitas tretas e
- ai que bom que isto é
e
- deus vos livre de não ouvirem este rapaz
e demais parvoeiras
mas sinceramente
nem estou com muita força para isso
nem me parece que o moço precise de que eu venha para aqui e
- ai que bom que isto é
e
- deus vos livre de não ouvirem este rapaz
[MP3] Jeff Buckley - Grace
[MP3] Jeff Buckley - Last Goodbye
e já agora uma música sobre ele escrita por outro rapaz
que antes não gostava dele mas depois já gostava
[MP3] Rufus Wainwright - Memphis Skyline
eu um dia destes conto a história




:
hmmmm
desculpa lá ó camarada banhart
mas esta semana não sei se fiquei muito convencido
hmmmm
[MYSPACE] Devendra Banhart - Samba Vexillographica + The Other Woman
não sei não



É o primeiro signo do Zodíaco. É criativo, motivador e adapta-se a tudo, mas costuma ser um pouco precipitado e exagerado na auto-estima. De natureza impulsiva e agressivamente extrovertida, é corajoso, curioso, jovial, competitivo e tem um espírito inquieto e selvagem, os seus traços negativos são a impaciência, ânsia desmedida de domínio, irritabilidade. Signo de: Leonardo da Vinci, Carlos Magno, Adolf Hitler, Van Gogh e Charlie Chaplin.





tenho umas coisas para te dizer mas de maneira a que não percebas (...)





ah feriado
[MP3] Antony and the Johnsons - Virgin Mary
porém dia de ir à missa
and not another word about it alright?



não sei se já tive oportunidade de dizer aqui quem é o 12º homem mais bem vestido do mundo?
ainda não disse?
pois é nem mais nem menos que o senhor rufus mcgarrigle wainwright
(e só 12º?
isto é uma mascarada)
ora
sendo assim
a ideia é copiar
e copiar à bruta e sem sequer pedir licença
não é?
obviamente que é.
agora posso dizer que possuo um colete.



- before i reached the gate i realised i'd packed my passport
ou seja, enquanto que o resto da banda veio alegremente para paredes de coura de avião, o amalucado pete doherty
- before security i realised i had one more bag left
por uma coisa assim ou qualquer outra lógica deste género
veio de comboio
(europe by train)
e espera-se que esteja cá a tempo de fechar a noite logo a toda aquela gente que lá está na relva
e enquanto esperamos porque não uma ou duas?
[MP3] Babyshambles - La Belle et la Bête
[MP3] Babyshambles - Albion
hmmmm
pois
...
continuamos à espera





- mas então explica-me lá
as pessoas viram-se para mim à procura das verdades e tal
- como é que é esta história das músicas novas?
ok se calhar não é tanto sobre o sentido da existência
mas viram-se para mim à mesma
- vai haver cd ou como é que é?
pffff eu já expliquei
o devendra lá deve andar a fumar merdas estragadas
porque anda a dar-nos o cd novo aos bocadinhos
- então mas ele anda a dar-nos o cd novo aos bocadinhos?
é, foi isso que eu disse
e já algumas vezes
[MYSPACE] Devendra Banhart - Bad Girl + Carmencita
não andarás tu às tantas a fumar merdas estragadas?





não sei se vos parece bem mas o que me estava mesmo a apetecer agora
mas mesmo mesmo
era uma dose de calhar
assim calhar absolutamente distraído
vai-se na rua e poum!
(buraco)
e de repente molham-se os sapatos todos
porventura rasga-se um ou outro tornozelo
fica uma pessoa num desaprumo que valha-me deus
pronto era esse tipo de calhar que me estava a apetecer agora
...
no entanto
e para poupar em estragos
podíamos era transferir a dinâmica do calhar para outra coisa
hmmm por exemplo
:
música
- oh jovem, escolhe aí três cançonetas
[MP3] Rufus Wainwright - Not Ready to Love
[MP3] Hilary Duff - Play with Fire
[MP3] CocoRosie - Japan
(ó merda, um dr.-freud-mix)
- obrigado very muito



sobre dizer que vou aí no dia em que aprender a voar e vou arrancar-te desse acidente em que te partes todo : em que te rasgas : e depois pego em ti e levo-te para outro sítio : onde as pessoas vivam de outras regras : pensas que eu estou a brincar mas não estou : basta fechar os olhos um bocadinho e começa a cabeça a gritar-me sempre a mesma coisa : é tamanho o berreiro que me admira que tu não o ouças mesmo daí : grita numa atrapalhação de palavras que te amo mais do que devia : insuportavelmentemente mais : é de tal maneira evidente que já há quem venha na rua e me pergunte por ti : e nunca te viram na vida : nem sabem de ti : mas ouvem-me tão alto que se chegam a mim e perguntam como te tens : se continuas a soprar a mesma luz sem dares conta : se permaneces lugar para onde fogem os olhos quando se cansam dos buracos das caras : se é verdade como eu choro baixinho que é que tens o talento de chegar e desarrumar tudo : e é porque me deixaste numa confusão que eu agora não sei o que me fazer : deixa crescer uma série de mãos a mais : e depois conta pelos dedos as vezes que eu já disse : vincado de sins e de certezas : que a única coisa que há a fazer é mudar a vida toda por ti : ponho-me raízes noutro sítio por ti : vendo partes diferentes do corpo por ti : por tua insuspeita intervenção foi afinal que comecei a deitar o muro abaixo : um calhau de cada vez como tu disseste : e depende dos dias : num dia bom é sacá-los ao muro e acertar com eles em cheio nas pessoas : zás pás reflexos rápidos! : noutros dias é descosê-los da parede e atirá-los em cheio de volta a mim : são os dias que potencialmente doem que se fartam : ou às tantas doem mais os dias em que parece que o muro se sobe outra vez : e tudo isso à custa de tijolos da minha carne que me arrancam à socapa : estou disposto a mudar tudo : tudo : por ti : vês a barulheira? : caem-me árvores na cabeça todos os dias : mas se sou só eu a ouvi-las, será que caem mesmo? : RC



já estás a abusar
...
é
...
o que escreve bem sou eu, não és tu
...
é
...
tears of god : jared faren


the white sky, the black clouds / the tears of god come raining down / upon my face from in my soul / the dark, the fear, i take my role // the fallen trees and barren sea / the dust of man raging wildly / into my skin i feel it sting / my bone, my blood, my meat i leave // take my tears / don't let me cry / oh sulking mountain / make me rise / above myself / until i fly / above the trees / of weeping leaves // the cold soul, the dark eyes / the body burns to ashes dried / upon the shore, the sea she cries / the winds and sand and stone allied // the wet blaze, the water dry / the bloody tears of all mankind / down the cheeks of every soul / the dust and ash, the ebb and flow // take my tears / don't let me cry / oh sulking mountain / make me rise / above myself / until i fly / above the trees / of weeping leaves // the cold soul, the dark eyes / the body burns to ashes dried / into my skin i feel it sting / my bone, my blood, my meat i leave // take my tears / don't let me cry / oh sulking mountain / make me rise / above myself / until i fly / above the trees / of weeping leaves // the white sky, the black clouds / the tears of god come raining down



oh pronto
lá vem este outra vez com estas cenas
a sério, não haver era alguém que lhe aplicasse uma pancada seca na região da nuca a ver se sucedia acabar isto duma vez
(vocês andam muito aborrecíveis, não andam?
tenhai calma
tenhai?
tende
tende calma
tende?
...
acalmem-se
tá bom?
pois tudo se desculpa quando a música da panca calha também de ser música boa
ok?
portanto aí menos um ou dois pauzinhos no velocímetro da estupidez não vos faziam mal nenhum
...
bom
[MP3] Rufus Wainwright - I Don't Know What It Is
[MP3] Björk - Aeroplane
[MP3] Beirut - Postcards from Italy
eu já vos disse que vou recomeçar a aprender italiano?
pois às tantas não disse porque decidi isso hoje
eu e mais gente
ahem jacob
trs
hmf)





― O ar que eu respiro é trazido de França,
disse pelo nariz Dom Frederico o Muito Chato, descendente directo por parte de uma prima dos condes de Gesamtamwelt
(e duques de Citröen por parte da maison de vacances)
― não sei se já te tinha dito,
e já tinha de facto dito e mais do que muitas vezes Dom Frederico o Excessivamente Aborrecido
― é uma coisa de saúde qualquer que eu tenho
abria-se e fechava-se o nariz de sua excelência o marquês, na aldeia e nas terras por ali em volta mais ninguém havia que fosse marquês ou que quanto muito tratasse o rei por tu
― Eu trato o rei por tu,
como fazia o Dom Frederico
― chego-me a ele e digo Ó rei queres ir à pesca ou assim?, e ele antes de dizer que não agora já nem manda os guardas baterem-me nem nada,
os buracos do nariz de sua fineza o marquês
― por isso eu o e rei é tu cá tu lá mas é principalmente tu lá porque ele embirra comigo,
e por isso grande respeito havia na aldeia por Dom Frederico mas pouca paciência para sua coisa mais nobre Frederico von Allein-Schlaffen, VII Marquês de Enterra-Rainhas
― nunca percebi porque é que o Dinis atravanca comigo
o Dinis era sua alteza real e atravancava precisamente por isso, porque Dom Frederico e todos os marqueses antes dele tinham recebido terras e fortunas e privilégios e mais uma série de coisas boas
(de acordo com o decreto-real que instituiu o título seis indivíduos antes)
em troca de um único serviço, e só uma tarefa era que lhes cabia fazer e era que em morrendo uma rainha
― ah a Leonor disse-me o Dinis que manda beijinhos,
era Dom Frederico quem havia de abrir o buraco, despejar lá para dentro a rainha e depois tapar aquilo tudo com projectos de florzinhas
― ai a Leonor
para que sua alteza real a morta pudesse descansar e já agora contribuir para a diversidade do jardim em termos de cor e de cheiro
― O ar de cá é impossível,
continuava Dom Frederico o Comprimido Para Dormir
― só nas minhas terras fartam-se de morrer pobrezinhos e é sempre com aquelas doenças mais más que depois é preciso queimá-los e assim,
falava sua excelência o Insuportavelmente Desinteressante com um primo da Flandres
― é um horror,
da Flandres e dele também
― um horror e uma chatice
quando lhe rasga pelos jardins um mensageiro, e de tal maneira vem o moço sem ar quase nenhum que Dom Frederico lhe pergunta
― que há?
e o que há são más notícias, diz o moço, principalmente porque em vez de dizer mais nada diz só
― Sua alteza finou-se
― O Dinis?
o moço ainda se falta todo de ares mas abana com a cabeça que sim
― o Dinis finou-se?
entretanto o primo da Flandres não apanha uma
― quando é que foi isso?
e o moço diz-lhe que foi antes de ontem, que estava sua majestade a dormir e de repente já não estava, o castelo quase caiu com o berreiro que fez a rainha, mas se era suposto sua alteza acordar à conta do escarcéu a verdade é que não acordou, deixou-se ficar morto como se tinha e pelo que se sabe ainda está
― morto?
sim, morto, disse o moço
― ó que caraças,
via-se pelo nariz de Dom Frederico a abrir e a fechar que isto lhe tinha causado incómodo para não dizer que tinha sido uma merda era o que tinha sido
― isto é uma merda é o que é,
ou então para dizer isso mesmo, e o primo da Flandres ainda completamente a leste
porque o que se passava é que o decreto-real pelo qual o avô do avô do avô de Dom Frederico, I Marquês de Enterra-Rainhas, tinha passado a ser sua excelência o senhor marquês que plantava altezas tinha sido escrito numa letra de bêbados tal que depois da primeira rainha morta
(a mãe do rei que assinou o decreto e daí o desatino todo coitado do rapaz)
quando foi a vez de falecer a jovem esposa do rei chegou-se à frente o primeiro marquês e disse
― Não não,
ao que o rei lhe pediu que se explicasse
― o que ficou estabelecido no papel é que eu enterrava rainhas, mas só daquelas que mandam, nunca na vida ficou concordado que eu ia andar por aí a semear cada mulher que o rei se lembrasse de trazer para casa,
o rei tinha-se noutro desatino semelhante e não lhe ocorreu responder nada
― daí que desculpa lá ó majestade,
(― Na nossa família sempre tratámos o rei por tu)
― mas não vai acontecer eu cavar seja o que for
e desde esse dia os marqueses continuaram com as terras e as fortunas e os privilégios e as coisas boas e tudo isto confortavelmente à espera que nunca calhasse outra vez de ser uma mulher a mandar
― E agora que vai ser do reino?
perguntou sua excelência o Massivamente Maçador, e agora pois então subia ao trono Dona Laura à falta de filhos homens
― ó merda,
o primo da Flandres todo desorientado com a agitação que se tinha posto, e pudera porque isto queria dizer
― ó valente caraças,
que havia agora uma mulher que mandava e que havia de ser preciso enterrar mais dia menos dia
― eu não posso fazer isso,
começou a estremer-se todo o Estupidamente Entorpecedor
― devo ter só da cintura para cima duas ou três complicações de saúde que me impeçam de enterrar pessoas,
a verdade é que nunca lhe tinha ocorrido que lhe ia cair uma rainha morta nas mãos, nem ao pai dele nem ao avô, desde que o primeiro marquês tinha aldrabado sua alteza da maneira que aldrabou
― nem respirar ao pé de mortos o meu médico me deve deixar, calha bem
e de repente Dom Frederico o Profundamente Pretensioso, conhecido em toda a alargação das suas terras pelas histórias cuja moral era que ele era melhor que toda a gente
― E a água que eu bebo também vem dum monte cujo nome não me recorda,
estava agora encolhido como nunca se o tinha visto
― mas há uma série de poetas que a mandam vir de lá também, ai como é que se chama o raio do monte?
porque dentro da cabeça pequenina de sua excelência o marquês não lembrava nenhuma maneira de ele se livrar disto, sendo que ainda nem a rapariga se tinha feito rainha e já havia desassossego que ela ia morrer
― E só para chatear vai morrer não tarda muito,
disse Dom Frederico o Filme Estrangeiro sem Legendas
― pronto e agora o que é que eu faço?
e era realmente uma boa pergunta, nem o moço fazia ideia nem o primo sabia ainda o que se passava, mas os factos eram desta maneira
― se ela morre, eu tenho de a enterrar,
o moço ia dizendo que sim
― portanto mandar matar sua alteza o raio da cachopa não ajuda
o moço ia dizendo que não
― pois não, e quanto muito até atrapalha, por isso outra linha de raciocínio
ouvia-se a cabeça de sua excelência a esfumegar-se toda
― o que era bem era ela não morrer nunca,
o moço ficou-se tão calado como o primo da Flandres
― é provável que isso aconteça?
perguntou Dom Frederico o Amplamente Aflito ao moço, que disse que não havia relatos na família real de gente que se tenha deixado viva para sempre
― merda,
reagiu assim o marquês
― OK vamos lá a ter calma então
soprou-se pela boca fora o Totalmente Transtornado, e o jeito que ele arranjou de ter calma foi imediatamente pegar-se num cavalo e abalar para o castelo, não só para chorar um bocadinho como é de lei que se faça mas também para ver de frente sua alteza a nova rainha e futura morta
― Ó Leonor os meus pêsames,
não se via a rapariga em lado nenhum
― a sério as minhas mais forçadas condolências,
ninguém sabia dela
― em meu nome e em nome da minha pessoa
em volta do castelo falava-se já da menina, meia dúzia de criados explicavam ao povo que quem mandava agora era Dona Laura a Muito Matulona, que vista de baixo parecia do tamanho de uma casa
― e a rapariga como é que está?
devia até ter havido qualquer espécie de atrapalhação quando foi de a fazer porque a rainha era mais bruta que muito homem e definitivamente mais bruta que o pai, Dona Leonor disse muito baixinho que a catraia estava de cama
(― ó merda)
que finou-se o pai e ela própria parece que se finou um bocadinho também, puseram a coroa na testa e ela nem meio ai, anda a chás coitada e a bolachas e já há quem diga que é capaz de não passar desta semana
(― ó merda)
por isso ainda bem que te puseste cá ó Frederico porque às tantas ainda calhas de aproveitar a viagem
― ó merda
disse alto desta vez o Inteiramente Atarantado, embaixador do reino mais do que uma vez quando era de ir para fora, pessoa que já bebeu de fontes pelo mundo adiante, conhecedor de vinhos de olhos fechados
― Este é dos bons
era competente a fama de Dom Frederico o Que Tem a Mania no que dizia respeito às coisas boas da vida
― não espera este é que é dos bons
dizia ele e fartava-se de o dizer que havendo uma razão para se caírem de espanto as pessoas todas e de pasmo já muito provavelmente ele tinha passado por lá primeiro
― mau agora é que é agora este é que é dos bons
e de facto à custa do título sua senhoria vivera a vida toda sem fazer nenhum, porque longe havia de estar o dia em que lhe chegasse a carta a dizer para desenterrar a pá porque havia uma alteza para emburacar
― a sério por que ordem é que me estão a dar os vinhos? pois se este ainda é mais maravilha que os outros
e ainda para mais já nem havia a pá real, que o pai de Dom Frederico havia perdido no meio de um fogo num dia em que se estava a jogar poker lá no palácio
― Deixa-te disso Leonor a moça é claro que se safa
mas pelo sim pelo não mal se teve fora do castelo foi ver Dom Frederico o Romance Histórico a desfazer-se por todas as casas de leis e a bater à porta de todos os conselheiros do reino, e a todos perguntava se
― Há alguma coisa em tudo o que há de mais pequenino nesse decreto que diga que eu não tenho de fazer isto?
até que o mais encarquilhado deles todos disse que sim, sua excelência o Veio-se Pelos Olhos imediatamente
― ó com um caraças como?
e explicou-lhe o sujeito que, segundo o decreto, a única condição em que o Marquês de Enterra-Rainhas estava desobrigado de sepultar a monarca era
― diga lá duma vez ó homem
na eventualidade de o Marquês desposar a rainha
― o que é que foi?
e só nessa condição, por respeito aos sentimentos do pobre esposo, se consentia que ele se livrasse daquela história toda da pá
― ó merda
pois, mas de resto nada mais o isenta, fechou o homem, e sua excelência mais angustiada o marquês de pronto se pôs de volta ao castelo
― Leonor chega-te aqui se não te importas,
no fundo era uma falta de respeito aos outros marqueses todos considerar-se sequer este cenário, onde é que já se tinha visto, mas a verdade é que nunca os pais prepararam os filhos para a eventualidade de se verem com uma rainha morta nas mãos, e o que é certo, pensava Dom Frederico, é que entre ter nas mãos uma rainha morta e uma viva mais vale ter uma viva e matá-la logo a seguir
― e se eu desposasse a Laura o que é que tu achas?
sempre se resolvem as coisas de uma maneira decente e assim ninguém fica a perder
― a sério o que eu apreciava desposar a rapariga hein que tal?
com a possível excepção da morta que ia acabar por morrer na mesma
― E eu já te disse de onde é que vêm as minhas árvores todas?
dois meses depois o mesmo primo da Flandres
― vêm todas do chão, ninguém as põe lá e de repente pás dez anos depois tens ali uma árvore toda cheia de folhas e tudo,
e pronto, talvez se tenha saltado aqui uma parte considerável da história mas a questão é que Dom Frederico o Extremamente Excruciante não se aguentava naquela situação nem sequer o tempo suficiente para a contar
― e os pássaros vêm do ar ou assim,
daí que foi casar e dois dias depois já ele se tinha viúvo à força de um chá de ervas, ferveu-lho pela garganta abaixo à sua alteza a agora viva e agora morta, dez minutos foi o tempo que levou a desgraçá-la toda por dentro, e foi também o tempo de espremer um choro emprestado para cima da cara e ir para o jardim ver a plantação
― o sol está sempre lá mais ou menos metade do tempo,
disseram os criados que a menina pegou bem, e um ou dois dias depois já estava Dom Frederico o Desafio de Futebol de volta ao palácio, um tio qualquer veio da França para se fazer rei
― até os reis mandam vir de França vê lá tu
e estava tudo de volta, os vinhos e essas coisas, até que lhe rasga pelos jardins um mensageiro, e de tal maneira vem o moço sem ar quase nenhum que Dom Frederico lhe pergunta
― que há?
e o que há são más notícias, diz o moço, principalmente porque em vez de dizer mais nada diz só
― Sua alteza finou-se
― O tio?
o moço ainda se falta todo de ares mas abana com a cabeça que sim
― o tio finou-se?
sim, disse o moço
― e agora que vai ser do reino?
perguntou sua excelência o Indescritivelmente Indigesto, e agora pois então parece que há uma prima
― ó merda. RC



mais uma vez esta altura da semana
duas novas de devendra banhart
para se ouvirem aqui
[MYSPACE] Devendra Banhart - So Long Old Bean + Seahorse
e entretanto a capa do disco saiu à rua
o que não admira com o calor que está
:

:
i likey




Paul Klee, Opened, 1933.



- The air I breathe is brought from France, you know? RC





getting on : jared faren

the whistle blows / the trolley goes / my love is one the waves / can't even cry / bloods done dry / oh river take my pain // you'll never look at me the same / you'll never ever heal me from my pain / i'm gonna take my heart from you / if you don't want you don't get it / i'm getting on over you // the bridges bang / the banners wave / my heart flowing with the tide / my body breaks / and i remake / the man i am inside // you'll never look at me the same / you'll never ever heal me from my pain / i'm gonna take my heart from you / if you don't want you don't get it / i'm getting on over you // you'll never look at me the same / you'll never ever heal me never from my pain / i'm gonna take my heart from you / you don't want you don't get it / i'm getting on over you // my body breaks / and i remake / the man i am inside



red thread : rufus wainwright

this new castle gets me down, never was a true believer / blueprints of a garden's plans turn to green, cannot explain / explain this longing so far reaching from the ground / and if i don't mind myself, marble stairs / you will lead me from my cares and explain it step by step // quietly among the pines, i remember i was walking / behind walls and window panes, smiled by the other courtesan / madly weaving with most delicate remorse / and watching my idle hands, making signs / upon my womb, a loom of kinds / and explaining glorious paths // oh, let it be for us, behind us and below us / we'll reign just like the rain above // but there came the fires all across the nation / and i could not explain this pound / how this turned upside-down, covered in red thread / houses turned upside-down, covered in red thread



(frase que te roubei, merdas, ok? trs)



acordo e no teu sítio tem lá poemas
e tão certos eles
como um corpo meu que sorri
por tua causa, impossível
lugar errado onde me tenho
e única vontade
de amanhã acordar e ter lá poemas




:
have you any idea how many of me have you killed by now?




:
there is a river running underground
underneath the town towards the sea
that only i know all about
on which from this city we can flee
...
we can flee




:
i hope there'll be a full report
cos noone will shut him up really trs


Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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