[Só mais uma dose de Campos, feita a tesoura e cola por mim.
RC]
Na rua cheia de sol vago há casas paradas e gente que anda.
Uma tristeza cheia de pavor esfria-me.
Pressinto um acontecimento do lado de lá das fronteiras e dos movimentos.
Passei nas ruas como qualquer pessoa,
mas não vejo mais contra uma espécie de lado de dentro das pálpebras,
que eu, eu mesmo.
O dia deu em chuvoso.
Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Puxem a cidade toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras.
[
in CAMPOS, Álvaro de -
Poesias de Álvaro de Campos. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990.]
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