São quatro e mais que meia da manhã, e ouço música de esponjas nos ouvidos.
Venho de ter ido ver
The Lake House, filme que quase quase conseguiu não me irritar. Mas depois chegou o fim, e o argumentista resolveu fechar a história com um não muito interessante
- Pronto, ora tomem lá um rebuçado agora e não digam que vão daqui
que, além de não funcionar com o resto do elaborado e até aí perfeito cruzamento das duas histórias, nos faz sair do cinema a pensar que
- Mas espera aí
(pausa)
- Foi isto?, É assim que isto acaba?
e sim, porque depois vêm as letras, e porque as luzes se levantam, parece que é assim mesmo.
O que toda a gente sabe é que este é o filme em que ela está num ano e ele noutro. É um processo giro, admito, onde parece que se aprende a recuperar algum do romantismo que foi violentamente atropelado
(- Ops, o que tu foste dizer)
em todos os filmes pós-modernos
(- Hein?)
que se vão fazendo à volta das relações que nascem em
chats e coisas assim. A dinâmica
(- Estás parvo, que texto imbecil é este?, só falta usares a palavra Explorar)
Nunca-Te-Vi,-Mas-Aprecio-te é uma que é delicioso explorar
(- Ok, recuso-me a continuar a ler este texto),
mas o fim destrói qualquer vontade que restasse de pensar no verbo que o filme nos manda aprender a conjugar
(- Hei)
que é o verbo Esperar
(- Mas o filme acaba assim porque ele terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo esperou)
e que a única certeza que há depois de esperar é mais esperar. Sempre.
Depois há um
subplot com um pai que fez uma espécie de estufa na margem de um lago. Onde
(pergunto eu)
é que aquilo é Frank Lloyd Wright?
(pergunto eu)
pois se o que o mestre fazia era usar o terreno e o que este coninhas faz é estender uma passadeira e depois pôr uma casa em cima de uns paus? Como a arquitectura é um pretexto, e como a casa olha de costas para o lago, não a ouço sequer,
arquitectura é algo mais, é fechar os olhos e ouvir as paredes, é sentir a luz na pele, é mãos e é cheiros
- Não é, rapaz?
(DS)
- Rapaz?
Mas depois, lá pelo meio, encontro Nick Drake, e sorrio à tela.
São mais que cinco da manhã, e ouço música de esponjas nos ouvidos.
RC