Segue-se um texto em três partes a serem publicadas uma por dia a partir de hoje, e assim na terça-feira quando o entregar já vai ser todo copiado da internet.Pergunte-se a qualquer pessoa que escreva para viver (e não para fazer dinheiro,
só num sítio tão semanticamente aos trambolhões como este mundo que temos é que as duas podem significar o mesmo)
o que é para elas escrever e nós vamos responder, mas naquele compasso arrastado dos velhos metrónomos, com a voz enferrujada de quem só fala quando é preciso
ou pelo menos eu vou que Escrever
(- Porque é que escreves assim porquê que às vezes não se percebe nada porquê há alguma razão para os parágrafos a meio das frases e para um único ponto final no fim do texto isso é para quê hein porquê?)
é não ter medo das palavras,
só,
depois cada um tem as suas próprias regras,
há um velho general que largou uma mão na guerra, e que a deixou no chão para que ganhasse raízes, e que todos os dias escreve à mulher
(Maria meu amor 1935-1982)
sem nunca usar palavras vermelhas, que todos os dias lhe conta um mundo sem cerejas, sem semáforos, sem dias de mau tempo, sem amigos deixados no chão, sem lágrimas,
até o amor deles é verde, da cor do mato, da cor da árvore que lhe nasceu dos dedos,
há quem não aguente a palavra coisas, porque é sinónimo de quase tudo, como se quase tudo fosse o mesmo, e olha-se e vê-se que não é,
eu próprio não suporto pontos de exclamação, soam-me sempre a frases de caixa de voz, soam-me a actores de província e a cenários de cartão
- Ande lá amélia diga lá essa frase em termos
de portas amarrotadas e janelas de celofane
- já lhe disse mais de cuma vez que é preciso vida
batem nas costelas e ecoam de megafone
- vá lá do fundo da barriga vamos
e a frase encaracola-se no tecto, entoa de pirueta e cai, de braços em pé, com uma imponência de palhaço rico
- levante a cabeça e diga lá isso outra vez
de sorriso de pó na cara.
RC
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