E se uma pessoa houvesse que apanhava todas as folhas que caíssem das árvores para dentro de um saco?
sairía quando era escuro, pelo lado de trás dos pássaros, disfarçada de sombra, com um casaco de pano de estrelas, e tentava colá-las em ramos de outras árvores, em terras de outras gentes, para ver se alguém reparava?
tomaria sobre si o fazer o ar limpo, engoli-lo pelas pontas dos braços, e sujar-se fatal ao fazê-lo, para que pudéssemos o resto de nós respirar ao revés de fora para dentro e de dentro para fora e espremer os pulmões pelos cortes da cara?
levá-las-ia para casa e tirava-as uma a uma do saco, com dedos afiados de ramo, e uma a uma as catalogava, em latim, conforme a cor, o tamanho, a nervuragem, e a árvore de onde caiu?
será que há quem trate todas as árvores pelo nome, como às pessoas?
será isto aquilo a que chamam, nas terras feitas de pó e nos sítios dos livros, o breviário possível de todas as folhas do mundo?
RC
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