vi os teus olhos durante um pássaro lento
que atravessou o céu e desapareceu atrás
da montanha.
olhando as nuvens, compreendi que eras
meu amigo durante árvores a crescerem
nos campos.
dentro do meu olhar, na terra fresca, havia
rochas que existiam desde o início da nossa
amizade.
+amigo, não tenho perguntas para fazer-te. quantas
pessoas entendem aquilo que não entendo? quem
descobriu o segredo mais inútil?
amigo, não tenho perguntas para fazer-te. basta-me
olhar. passaram anos, poderiam ter passado mais
anos ainda. poderiam passar séculos.
entendo o teu rosto. isso basta-me quando te vejo.
para mim, serás sempre o príncipe , a criança que
me mostrou as árvores.
o tempo não passou, amigo. agora, ao chegares,
olho para ti. o teu rosto é igual. agora, ao chegares,
sei que nunca partiste.
+quando os instantes da manhã se acumulam nas
paredes da casa, eu rasgo as páginas onde te escrevo,
porque sei que tudo será desnecessário, tudo será
frágil. quando imagino o sol que não sei se poderei ver,
esqueço as paredes e,
com tanta força,
quero que sejas feliz.
(=
PEIXOTO, José Luís - A Casa, a Escuridão. Lisboa : Temas e Debates, 2002.)
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