A seguir à ultima palavra de um livro vem sempre uma espécie de luto feliz, um chorinho pingado de coração quente, de aconchego de lareira, como as despedidas de lágrimas engolidas em estações de comboios antigos, em plataformas oleadas de fumo, com sorrisos musculares ensaiados ao espelho para o último instantâneo, para a memória que fica, fotográfica, fechada e definitiva, como um ponto final.
Se há alguém responsável por eu escrever desta maneira,
responsável ou culpado conforme,
é este senhor, e os seus longos poemas de sangrar os músculos para dentro das folhas.
A culpa é da música, da crueza milimétrica das palavras, do requinte de escansão ao mastigar os fonemas,
a culpa é do fio entrançado, repetido, martelado, das ideias
das ideias das ideias das ideias,
se há alguém responsável por eu escrever desta maneira é este senhor.
RCNome:
Explicação dos PássarosAutor: António Lobo Antunes
Formato: 257 páginas
Dimensões (em centímetros): 1,6 x 23.4 x 15,4
Data de publicação: Novembro, 2004 (1ª ed., 1981)
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Descrição: Na manhã bolorenta de humidade consegues, por fim, que te expliquem os passáros.
Tipos de letra: ?
Primeira frase do livro: - Um dia destes dou à praia aqui, devorado pelos peixes como uma baleia morta (...)
Última frase do livro: (...) conseguiu distinguir (...) os contornos da cidade do outro lado da ria, que se apequenavam devagar até se sumirem por completo no nevoeiro descolorido da manhã.
Dedicatória: Para a Marília e o Dinis Machado - Amigos e companheiros de caminho.
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