tenho medo do passado que volta


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A propósito do Volver, de Pedro Almodóvar, que não posso recomendar demais. Este texto foi tanto mais difícil de parir porque nunca na minha vida tive uma aldeia.

O IMPORTANTE É QUE VOLTES,

Ser requer um sítio onde possamos estacar raízes, um quadrado de chão fixo, dormente, em pulsação controlada de urso, com o tamanho dos pés e fundo como o comprimento de dois braços, o chão que arrastamos nas solas dos sapatos, sempre, onde nos pousamos e que nos saiba devolver de volta, pelas pontas dos dedos, as respostas que pedimos sobre nós. O importante é que voltes, sussurram as aldeias aos carros que partem, O importante é sempre que voltes, que guardes no fundo dos pulmões sempre uma garrafa do ar de cá, ouvem-se os naperons em cima dos televisores, Que é o que te segura nos pés quando estás longe, se calhar é o cheiro que transpira da terra, da respiração cansada e arrastada dos campos, em bafos quentes, que nos fecha os olhos de cortinas de pálpebras e nos refaz ontem, se calhar é o perfume velho das casas, dos saquinhos de cheiro e das mantas dos sofás, se calhar são os homens aninhados do fogo contido dos fogões, se calhar é a chuva que acorda e abana o ar com o hálito aconchegante do chão. Toda a gente leva para o trabalho todos os dias o seu bocado de terra nos bolsos, como debaixo dos bonecos desenhados pelas crianças, de calças brunidas em rigidez de circunflexo e de braços de ramos de árvores, a riscos hesitantes de lápis de cera, e cabeças de bola, há sempre uma linha de chão, interrompida, e debaixo de cada homem a sua, e debaixo das árvores, e das casas. Ao longe, nas cidades, cruzam-se todos esses pedaços de chão, repete-se nos subúrbios em casas amontoadas a mesma vida interminável e congelada das aldeias, de relógios de sombra e rios esgotados. Os carros que voltam trazem coisas que ficaram por fazer, transidos de medo por terem virado costas ao adro da igreja ou ao tanque do quintal, e as viúvas, num rito zumbido de mármore, juntam-se para segurar o passado à força, um cemitério traçado a régua e esquadro e fundo como o comprimento de dois braços que esperam, abertos, que as memórias nos devolvam, numa marcha hipnótica de formigas, precisa, às mesmas casas, e às mesmas gentes, e aos mesmos mortos que ainda lá vivem, dentro das mesmas pedras. Ser é tocar em alguma coisa, e ser tocado de volta. RC


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Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

Já se disse

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