Cada vez mais me convenço
e deve ser da idade e das dores de costas e desse tipo de coisas
que o verdadeiro e supremo objectivo das férias é encontrar sítios pelo mundo fora onde nos podemos deitar no chão e fechar os olhos
e deixar que a cidade nos entre aos poucos, pelo corpo.
(Como quando em Barcelona me deito em Park Güell, debaixo daquele sol de azulejos verdes, e um senhor com um violino me devolve lentamente cada vez mais ao chão, e ao sono leve dos sítios quentes.)
Em Londres, não há Londres sem uma tarde na Tate Modern,
(o melhor museu de arte contemporânea de que me lembro, na margem direita do Thames, que por sua causa precisamente se está a tornar num sítio
trendy)
e nos degraus da grande rampa
(ver fotografia 1)
e uma pessoa encosta-se ali e o museu todo continua a viver à nossa volta,
a loja mesmo ali em frente, as filas tolas para as bilheteiras, as escadas rolantes para as exposições, o povo, o tanto povo, de olhos no tecto, as pessoas à varanda,
e depois, aos poucos, quando o orgulho de haver sítios assim no mundo nos pôs já bem dispostos, levantamo-nos com o sorriso que podemos ter para que não nos pensem tolinhos e seguimos, hipnoticamente, para os andares de cima, para os quadros.
Isto tudo a propósito de uma exposição que abriu ontem em Turbine Hall
(precisamente este sítio de que falei agora)
e que consiste, basicamente, em escorregas.
Carsten Höller usa-nos e à Tate para lançar as bases de uma experiência que pode ser, quem sabe?, alargada à cidade, e a outras cidades, e para fazer a pergunta E se os escorregas fizessem parte da nossa vida?
A sério, quem não queria ir todos os dias de escorrega para o trabalho?
RC[Mais fotos aqui.]
Essa ideia de haver um escorrega que nos leve ao trabalho é muito boa. Se houvesse um escorrega daqui até à FEP é que era uma grande ideia. Principalmente se desse para dormir pelo caminho.