para ti


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Estou a escrever isto no escuro. Não vejo a minha mão nem os gestos que desenho. Não consigo ver o que escrevo, nem como fica a letra provavelmente toda encavalitada uma na outra. A única coisa que sei é que tenho papel e caneta e que vai ser a última vez que te escrevo. Pelo menos por uns tempos. Tenho de começar a esquecer-te. Não me fizeste mal nenhum, e é por isso mesmo que te preciso longe da cabeça. Tanto quanto me estás longe das mãos, é assim que te preciso ideia. Não vai ser fácil esquecer-te. Eu sei que não vai. Vai doer e remoer e retalhar-me todo. Mas dorido e remoído e retalhado já eu estou, porque aos dias em que me fazes sol seguem-se os dias em que me desfaço nuvem. Entendo-te longe como de facto estás. E desisto. Não suspeito que faças ideia de como tenho andado. Não sei se te conto porque é parvo demais. Mas sempre te contei tudo. Chega-me estar sozinho um minuto. Às vezes nem isso. E a ideia de ti sequestra-me e rebenta-me os olhos. Agora que penso nisso não tenho feito outra coisa nestes últimos dias. É certo que me tenho apanhado várias vezes sozinho. Já ninguém me pode ouvir com desdobramentos de ti. Já ninguém suporta a monotonia utópica de te querer. Já ninguém me atura. Mas dado que ninguém me pode ajudar na desdeificação de ti, é só natural que me caiba resolvê-lo sozinho. E necessariamente sem ti. Sem ti. Às tantas não é um esticão assim tão grande. Basta continuar sem ti. Já estive a pensar como é que vou fazer isto e tive uma ideia ou outra. O nada que tenho nas mãos afundo-o nos bolsos. Depois é só desentulhar a cabeça de ti e andar por aí vazio por dentro dos olhos. Será assim tão difícil? Às vezes dói-me tanto o corpo que preciso de te ir ver. Às vezes acho que só assim. E no dia em que eu não couber mais neste sítio escuro em que fechei, e tiver mesmo de te respirar, vou chegar aí ainda não é manhã, vou esperar que amanheças, e depois toco-te, olho-te, e em correndo tudo bem na minha cara está escrito que preciso de ti, que fiz meio mundo por tua causa, porque tu és toda a outra metade. Vês? É por este tipo de coisas que eu não te posso escrever. Soubesse eu escrever e tinha escrito amo-te em vez disto tudo. Amo-te em vez disto tudo.
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ricardo.


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Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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