ouviste o que disse o moço da guitarra? eu por acaso sempre achei que esta gente eram todos ganzados ou então só estúpidos, mas ali pelo meio daquele espalhafato metafórico todo aconteceu ele dizer coisas a propósito : ouviste ou não ouviste o que ele disse? estava ele a perguntar, e chegou a perguntar uma continuação de vezes porque calhou de ser no refrão, porque raio é que era amor aquilo que me tinhas. tudo bem, ele não disse raio, mas isso já sou só eu a reforçar porque se queres que te diga eu também sinceramente nunca percebi muito bem : sei que é amor que me tens, dizes tu aliás que é amor que me tens, mas eu agora vejo-te aí a olhar perdido de volta para mim e podia quase apostar que tu também não sabes : acertei? não me digas que acertei. ah sim? : nesse caso então congratulações de uma forma geral para mim e já agora para o miúdo da guitarra que até é muito giro e pelos vistos sabe fazer perguntas bem feitas. olha fazemos assim : eu acho que vou ajudar-te a tentar perceber porque convenhamos parecendo que não isto acaba por me dizer também respeito se bem que duma maneira mais ou menos atravessada : vamos lá tentar sistematizar isto. por exemplo, uma das coisas que me faz impressão e que torna isto tudo do amor que me tens mais, vamos lá, anormal : é que pela maneira como isto está escrito até parece que eu estou mesmo a falar contigo cara a cara e chega até a dar ares de que eu te estou a ver os olhos e tanto eu como tu sabemos que não é assim : e ainda bem, desculpa lá estar a dizer isto mas nós estarmos, como é que se diz?, nos quintos um do outro acaba por me facilitar bastante as coisas porque : lá está : mais uma vez este texto dá a entender que eu me preocupo nem que seja residualmente com esta treta do amor que me tens e a verdade é que não, não podia querer saber menos se te custa dormir ou se te dói continuamente o corpo ou se conduzes de olhos fechados : ehpá em verdade é-me igual que chores ou não mas por tua causa estou disponível para fazer um bocadinho de conta : por tua causa. eu acho mesmo que a primeira coisa que tens de perceber é essa súbita urgência de mim tendo em conta a lonjura de nós : e continuas tu patético a olhar-me de volta, pára com isso por favor não te leva a lado nenhum. porventura o problema : segue-me : porventura o problema é não fazeres por entender nada disto, percebes por onde estou a ir? : os sonhos pensam-se e acordam-se, esse tipo genérico de parvoíce de que se convencem as pessoas como tu com o amor que me tens, já não é a primeira vez e não há-de ser a última que as pessoas me conhecem e deixam de saber fazer contas e começam a tropeçar-se todas nas frases, está sempre a acontecer, e uns dias depois pedes-lhes que resolvam um silogismo pequenino ou que digam qualquer coisa inteligente sobre nietzsche e pois está quieto : ficam a olhar para mim vazios como tu agora daí não me ser extraviado pensar que acredites nessa atrapalhação onírica toda : não me entendas mal, eu também costumo raciocinar por sonhos, mas agora não tenho tempo e além disso não estou nesse estado de alienação aparvalhada em que estás tu com o amor que me tens. ou então se calhar agora deixo-me de meta-cuitados e atiro de uma vez que o problema és mais provavelmente tu, algures no meio desse atabalhoamento de confusão em que pelos vistos gostas de remoer : será que é mesmo amor que me tens ou és só tu à procura de um muro onde poderes ser miserável? não serás só tu à procura da tua nuvem? repara, eu gosto ligeiramente de ti de vez em quando, mas mentia se dissesse perceber todo esse amor que me tens. RC



crumb by crumb : rufus wainwright

maybe in you i'll believe, maybe i'll believe in you the future of my understanding of love / many a time i've before, before i've many a time knocked a stranger's door, / discretion hardly i'm known for / probably has nothing to, nothing at all in the world to do with you, / just your lower lip on the floor // but baby i gotta get through crumb by crumb in this big black forest / maybe in you i'll believe, maybe i'll believe in you // suddenly i'm not myself, behind the façade is the lonely fountain head / suddenly you are the one who opens the gates to this unruly garden / come and let this man adore you / cos baby i got to get through crumb by crumb in this big black forest / maybe in you i'll believe, maybe i'll believe in you // suddenly you're not yourself, behind the façade is a lonely angel's stealth / suddenly i am the one who opens the gates to this now blooming garden / come and let this man adore, crumb by crumb in this big black forest / you i'll believe, crumb by crumb in this big black forest / ...



changing lives over the sea / ready to open up a new door / close my eyes, leave me be



já reparaste como és impressionante tu ó minha pessoa a preto e branco? já te apercebeste ó tu insuportável como és decimalmente capaz de me trocar todo em confusões? porque é que chegaste tu ó inevitável e me desdobras a discordar de mim à força toda? já reparaste ó indispensável que o que fazes me valia nada até me chegares tu? até me nasceres tu ó incontrolável ideia ó irritação ó necessária perturbação qualquer esboço suado era fútil me era inútil e então chegas tu ó visceral complicação do meu corpo e lhe fazes pose e lhe tornas equilíbrio e força e lhe confirmas tu ó inacabável beleza ó tudo : já reparaste como és impressionante tu? RC




'The Penthesileia Master', Zeus courting Ganymede [Zeus cortejando Ganimede], c. 450 a.C.



the motion waltz (emotional commotion) : rufus wainwright

waiting to cross the rubicon / wondering what side i'm on / what are these visions of me as a young man? / with one arm pointing, and the other arm holding your hand // needing a plan to keep you near / blowing a horn, so you can hear / if it was only my love and devotion / this world would suddenly be in a state of commotion // emotional commotion, emotional commotion / emotional commotion, emotional motion // i never get around under the sun and the stars / and i may be always frowning / but wonder you will see, under the sun and the stars / you will turn around and i'll be emotion // emotional commotion, emotional commotion / emotional commotion, emotional commotion / emotional commotion, emotional motion



Era mesmo só para dizer que também quero está bom? boa noite então muito obrigado. RC



the gay messiah : rufus wainwright

he will then be reborn from 1970's porn, / wearing tubesocks with style, and such an innocent smile / better pray for your sins, better pray for your sins / cos the gay messiah's coming // he will fall from the stars, studio 54 / and appear on the sand of fire island's shore / better pray for your sins, better pray for your sins / cos the gay messiah's coming // no, it will not be me, rufus the baptist i be / no, i won't be the one baptized in cum / what will happen instead, someone will demand my head / and then I will kneel down, and give it to them looking down // better pray for your sins, better pray for your sins / cos the gay messiah's coming





vês, se eu te perguntasse tudo o que tenho para te perguntar ia parecer um muito mau fazedor de perguntas porque ia estar a ligar umas às outras que são completamente iligáveis como
como estás? / como está o tempo por aí? / o teu cabelo hoje está em pé ou não? / onde é que as janelas acabam? / de que flor gostas mais? / de que cor é a tua porta da frente? / o que é que achas que 'i'm going to see james dean' quer dizer? / com que idade é que querias não envelhecer mais? / o que é que querias não querer? / onde é que os teus pés te levam? / de que palavra gostas mais? / o que é que último cantaste? / acordas com sol ou com sombra? / quão comprida é a tua rua? / quão grandes são os teus sapatos? / fechas os olhos quando cantas? / quão má é a tua letra? / qual é o teu número da sorte? / como é que desenhas árvores? / a que jogo é que dominas completamente? / quanto trocado tens na carteira? / preferes mesas ou cadeiras? / quando é que último foste andar a pé? / o que é que querias estar a estudar? / quando é que conheceste o rufus? / gostas do cheiro de tinta? / a que é que tens alergia? / não odeias gente que acha que tem piada? / de uma forma geral confias em mim? / quantos espelhos tens em casa? / em quanto tempo te pões no trabalho? / tens noção de que eu ficava nisto para sempre? / gostas mais de perguntas ou de respostas?
;
por acaso há mais uma : mudavas-te para a europa hoje? RC





Tenho umas coisas para te dizer mas de maneira que não percebas : não faças perguntas, a sério : dá-me mais jeito que te cales e que me deixes humilhar-me outra vez : não é nada que te custe, é? : não é, obviamente que não é : então cá vá : ah, e não digas nada, mesmo nada : mas mesmo mesmo nada : porque, convenhamos, na maior parte das vezes não dizes nada de jeito e parecendo que não eu estive a treinar isto : não demora muito, não te preocupes : então cá vai : agora é que é : então cá vai : preciso de ti : pronto, já comecei mal : hmm, vou começar outra vez : desculpa lá : agora é que é : preciso sempre de ti : ui, piorou : não faças essa cara, quando eu disser agora é que vai ser a contar mesmo : agora : é impressionante para mim que te tenha de dizer isto : já, já começou, agora parece-me que vai bem : é impressionante para mim que não me prevejas e que não soubesses já que isto ia acontecer : já devias saber : que raio, já levas alguns anos de espelhos, não já?, e de ouvir a tua voz quando falas : já devias saber que as pessoas que te vêem e olham para trás devem concerteza ser parvas porque deve ser até uma espécie de pecado : não gosto da palavra pecado, mas é objectivamente uma coisa má : olhar para ti e desviar a vida para outros sítios é como hoje se perdem concursos e se atravessam mal ruas : é como hoje se reza ao contrário para chamar os diabos : é como hoje se morre aos bocadinhos : estás a perceber alguma coisa? : ainda bem que não, era essa mesma a ideia : continua a fazer assim pouco esforço : ora, o que é que acontece? : estou a tentar desviar-me de ti : mas à força toda : mas ali completamente dedicado ao etéreo projecto de te ver igual a toda a gente : sabes, sem o sol por cima dos ombros e isso tudo : exacto, como diz o outro : porque a verdade é que estive a fazer umas contas e entre o inferno e o sítio onde estou agora : longe de ti, esse tipo genérico de treta : quer me parecer que, pelo menos a longo prazo : vês?, isto sou a eu a usar de categorias económicas : quer me parecer que me aleijo mais aqui que no inferno : não sei, é só uma coisa que me parece : não sei se são as merdas que choro ou as que vejo de olhos fechados, não sei : sei é que estás basicamente a dar cabo de mim : eu disse para não fazeres perguntas : obviamente que não sei explicar : hmm, já sei, faz assim : vai ali ao espelho cinco minutos : se no fim ainda não tiveres percebido, eu vou irremediavelmente estar aqui : é aliás disto que estamos a falar. RC





O Dr. Kurt von Allein-Schlaffen, cujo nome nunca deves ter ouvido porque é uma trocadilhagem, escreveu uma vez um estudo meticulosamente pesquisado sobre a questão das dores de cabeça que verdadeiramente impressionou o mundo científico
(continua comigo)
:
ele basicamente afirmou que enquanto é pacífico que as dores de cabeça são de facto dolorosas
(o que ele confirmou simplesmente perguntando a vários pacientes)
ele também tornou bastante claro que enquanto algumas coisas como borbulhas ou alergias podem ser coçadas, uma dor de cabeça não pode visto que está dentro da cabeça.
ora : isto foi bastante inovador na altura
(até chegou a ganhar o prémio de melhor descoberta científica na Feira Estadual de Animais e Maquinaria Agrícola de Dresden 1987)
porque até aí julgava-se que as dores de cabeças eram obra de um fantasma que nos apertava nos dois lados da cabeça enquanto outro fantasma
(necessariamente um mais alto)
estaria a puxar dois fios com anzóis espetados na parte de trás dos olhos.
;
como é que estás?
tu não és do tipo de pessoa que tende a escrever piadame, pois não?
;
O Dr. Kurt morreu em 1996 quando foi atropelado por um carro que dizia ter uma dor de cabeça. Posteriormente provou-se que não tinha. Era uma avaria no motor. RC



De vez em quando para me ser mais fácil transvestes-te de pessoa normal
:
tiras os olhos de sacar gente das sombras, trocas o sangue por tinta de escrever, enrolas os braços nos bolsos e desmontas-te, fechas a voz em envelopes,
e logo me relembras pequeno e diminuis-me, isolas-me numa caixa fora de ti e deixas-me empoeirar,
e durante uns minutos chego a não te suportar, canso-me de ti, corres-me irritações nas veias, emerdas-me,
e vejo que estou afinal a enervar-me contigo, sempre com as coisas de ti, todos os dias de ti, e logo te olhos que te despes outra vez grande, eternamente mais, e meta-pessoa de ti. RC



Rapidly penned and rapidly translated for the sake of j
:

1. INT / KITCHEN / DAY
Two numbered characters.

ONE
I’m going to write you a letter.

TWO
Why are you going to write me a letter, we’re both here.

ONE
I want to write you to tell you stuff.

(pause)

TWO
Is it about that girl again?

ONE
No.
(pause)
Just a bit.

TWO
How big a bit?

ONE
The whole letter.

TWO
Right.
(pause)
What’s her name?

ONE
Will you let me write?

TWO
I only asked what her name was.

ONE
Her name is Martha. Now will you let me write?

TWO
Absolutely.

ONE
Then you’ll read it.

TWO
Fine.

ONE
It wouldn’t be any good if i told you now.
(pause)
Then when you were to read it why would you read it?

TWO
I’m frightfully sorry, do carry on.
(pause)
I’m not even here.
(short pause)
By the way, that word is written with a ‘c’.
(pause)
You wrote it with an ‘s’.

ONE
Here is a ‘c’?

TWO
Here is an ‘s’.
(pause)
There is a ‘c’.

ONE
Here is a ‘c’?

TWO
There is a ‘c’.

ONE
Why are you correcting my spelling?

TWO
Because you’re writing to me.

ONE
You clearly understood what i wanted to say.

TWO
I might not have.

ONE
But you clearly understood.

TWO
I might not.
(pause)
If you didn’t know how to write that, you could write instead that you were going to kill yourself.

ONE
To kill myself?
(pause)
That makes it seem something bad.

TWO
Just trying to help.

ONE
And you did, thank you volumes.
(pause)
I’m going to “kill myself”, as your prefer, because of—

TWO
(interrupting ONE)
Martha.

ONE
Because of Martha, yes, thank you volumes again.
(pause)
Can I keep on writing now?

TWO
I’m not even here.

ONE
Good.

TWO
And i’m not even looking.

ONE
Better.

(pause)

TWO
And that isn’t spelt like that either.

ONE
What now?

TWO
Don’t turn against me for spelling ‘revolver’ wrongly.

ONE
I just wrote that.

TWO
If you didn’t know how to spell ‘revolver’ you could’ve written ‘gun’ or something.

ONE
You said you weren’t looking.

TWO
Cos with that written like that i don’t even know what’s going on.

ONE
You’ve just corrected my writing again.

TWO
As far as i know you could be talking about anything.

ONE
I’m going to kill myself! : what else could i be talking about?

TWO
I’m not even here.
(pause)
So you’re going to kill yourself, is that it?

ONE
Will you let me write?

TWO
Absolutely.

ONE
I can’t even write you one letter.

TWO
You write me everyday.

ONE
About different things.

TWO
That ciclically repeat with each day of the week.
(pause)
So on Wednesdays you’re going to kill yourself, followed by Thursdays when you’re not going to kill yourself after all and need some money and then on Fridays you need some money and you don’t even mention killing yourself cos it’s almost Saturday, which are the days in which you like the sun.
(pause)
Then come Sundays when you should like sun and you don’t, on Mondays your paintings suck, on Tuesdays nobody likes you and on Wednesdays you’re going to kill yourself.
(pause)
So today you’re going to kill yourself.

ONE
I am.

TWO
And is that because of that girl?

ONE
No.
(pause)
Just a bit.

TWO
How big a bit?
ONE
All of it.

TWO
What’s her name?

ONE
Her name is Martha.
(pause)
Now will you let me write?

TWO
I’m not even here. RC



i'm going to a town that has already been burnt down / i'm going to a place that has already been disgraced / i'm gonna see some folks who have already been let down / i'm so tired of america // i'm gonna make it up for all of the sunday times / i'm gonna make it up for all of the nursery rhymes / they never really seem to want to tell the truth / i'm so tired of you, america // making my own way home, ain't gonna be alone / i've got a life to lead, america / i've got a life to lead // tell me, do you really think you go to hell for having loved? / tell me, enough of thinking everything that you've done is good / i really need to know, after soaking the body of jesus christ in blood / i'm so tired of america / i really need to know / i may just never see you again, or might as well / you took advantage of a world that loved you well / i'm going to a town that has already been burnt down / i'm so tired of you, america // making my own way home, ain't gonna be alone / i've got a life to lead, america // i've got a life to lead / i got a soul to feed / i got a dream to heed / and that's all i need / making my own way home, ain't gonna be alone / i'm going to a town / that has already been burnt down

[Going to a Town, by Rufus Wainwright : primeiro single a sair de Release the Stars.]



sabes tudo o que te disse? sim, isso de seres tudo e um sítio ainda mais a nascente, isso de seres a impossibilidade de esquecer, isso de seres relatos de sonhos, isso de seres tu,
sabes tudo o que te disse? não, não vamos esquecer isso, dizes tu, é melhor para mim não esquecer, o que está dito está dito e até é simpático de ouvir, dizes tu, isso de seres dor quando não estás e de seres dor onde não estás,
sabes tudo o que te disse? sim, sinto-me ridículo de to ter dito, e de me ter espremido todo à frente de onde nunca te tens, sinto-me estranho, sinto-me parvo, emparvoeço de te ter sempre na parte de trás dos olhos,
sabes tudo o que te disse? não, não é mentira, é talvez uma verdade esticada entre os nossos sítios de acabar o mar, é possivelmente completamente verdade a precisar de se encher de ombros e de músculos nos sítios dos braços,
sabes tudo o que te disse? sim, mantenho, escondo nas mangas e sublinho na cara e nas linhas de entristecer, multiplico, risco duas curvas descendentes dos cantos da boca e finjo que estou ao contrário,
sabes tudo o que te disse? não, não nos dá jeito, acredito, mas que fazer?, que outra coisa fazer?, talvez deixar passar tempo, é isso, que o tempo passe e decida por si, ou por mim, ou por ti, ou por alguém que saiba melhor,
sabes tudo o que te disse? sim, mais provavelmente é só gostar de ti, mas desdobra-se de infinitos de relógios desentendidos e dorme fora do lugar, e durmo quando te tens sol, e acordo quando te tens noite, e anoiteces,
sabes tudo o que te disse? não, não o calo, mas digo-te que não o percebas, numa língua em te seja igual, em fraseamentos de vozes de narizes como não se faz aí, como este fio que escrevo ou este outro que suprimo,
sabes tudo o que te disse? sim, és-me, dóis-me quando dóis, se calhar és que moras do outro lado e vens cá a casa de vez em quando, como aqueles dois. RC





tentaste uma vez ensinar-me a enevoar a um canto.
é fácil : disseste : é tão fácil : disseste : chega fazeres como eu digo : disseste : fazes como eu digo?
já sabes que não sei dizer-te que não.
muito bem : disseste : então é assim
:
começa por pensar em mim : disseste : consegues? : disseste : fecha os olhos e vê-me : disseste : vê-me a perfeição da cara : disseste : procura-me os fundos dos olhos : disseste : olha para mim : disseste : já está?
:
agora tenta ouvir-me : disseste : falo-te muito baixinho : disseste : choro-te ao ouvido : disseste : sente-me a voz : disseste : já está?
:
agora lembra-te das coisas que digo : disseste : pesa as palavras : disseste : sente-as na pele : disseste : imagina-me a dizê-las : disseste : o veludo : disseste : o toque : disseste : já está?
:
agora o fim : disseste
:
agora esquece-me : disseste : de vez : disseste : já está?
:
se não está vai enevoar para aquele canto. RC



you know as well as i do that i could tell you almost every line rufus has ever written, and all of them i'd be saying just for you




[BCN, julio'06.]



i got a hankering something's gonna happen / i may be wrong, but then again i may be right / there must be a reason that i have been hanging 'round / for so long in this goddamn café all night // oh, i've sat and flipped yesterday's news, / refilled my cup of coffee over and over and over and over for you, dear / i've let them play grunge all the day, / reread 'zines, designed tattoos over and over and over and over / 'cause it's over, i belong to you // oh, i'll say café society ain't what it once was / if i see one more roach crossing, i'll call the whole thing off / but i think i'll stay here, right by your entrée, dear / hopefully, as the english do / but thank god i'm reading proust, / remembering things of the past... or should I say le temps perdu? // oh, i've sat and flipped yesterday's news / refilled my cup of coffee over and over and over and / i've let them play grunge all the day / reread 'zines, designed tattoos over and over and over and over / 'cause it's over, i belong to you

[Hankering, by Rufus Wainwright : cometi o maior erro da minha vida e vou enevoar por isso durante txiiii tanto tempo]



:
I cannot say I was very fond of adults in Istanbul, finding them in the main ugly, hairy and coarse. They were too clumsy, too heavy, and too realistic.



oh que catano



- Vocês conhecem-me
(começaria eu por dizer)
- eu sou uma pessoa a quem coisas estúpidas acontecem
(e é verdade que sim, confirma-se totalmente)
- por isso o que é que eu fui e fiz desta vez?
(tensão, o povo agita-se)
- ora, desta vez eu fui e começo a perder-me de amores pela pessoa mais improvável
(ui pronto já fui, agora é que já estou)
e vocês perguntam qualquer coisa do género
- mas então
(vocês a introduzir)
- quem é?
(a introduzir e a querer logo saber demais, chiça)
- improvável porquê?, vocês conhecem-se?
(e é impressionante a vossa sensibilidade, porque agora eu diria que)
- Hmm
(primeiro hesitava, não é?, e depois diria que)
- nem por isso
(hein?, como assim nem por isso? deixem-me refrasear)
- mais ou menos
(o que melhorou muito, olha deixa estar, visto que vocês)
- Como assim mais ou menos?
(eu não digo?)
- ou se conhecem ou não se conhecem
(muito bem, e belo uso da particula ou)
- como é então?
(vocês a pressionar e eu já arrependido de ter começado isto)
- Bem
(eu a derrapar)
- sim, vamos dizer que sim
(ufa dominei completamente)
- mas não o suficiente
(pronto, tudo controlado, e tanto que vocês)
- Oh
(e indignam-se e tudo)
- então faz por isso
(vocês a emanciparem-me ou qualquer coisa assim)
- se ainda não se conhecem passam a conhecer-se
(vocês a fazerem-me homem, assim é que é)
- isso é o que é mais fácil
(ui pronto fiasco número um)
- onde é que se conheceram?
(ui merda)
- Onde?
(eu a tentar segurar isto)
- hmm
(ui foda-se)
- foi
(ui que menino)
- por aí
(ufa)
- foi por aí
(mas o quê, isto passou?)
- Por aí onde?
(não, não passou)
- Por aí
(eu a lembrar-me do que se costuma dizer)
- por amigos comuns
(olhem eu a dominar tótil, e tanto que vocês)
- Pronto, então qual é o problema afinal?
(vocês já consideravelmente atravancados)
- O problema
(ui e se eu me calasse agora?)
- é que não lhe posso dizer que gosto dele.
RC




André Derain, Turning Road, L'Estaque [Curva em l'Estaque], 1906.



(a coisa do título lembrei enquanto desenhava
: muito obviamente :
uma árvore, que parecia tão triste
: e depois estava a chover ... deprimente :
de qualquer maneira, apercebi-me hoje que os pessegueiros estão a dar flor
pelo menos no meu lado do mundo)

como está o teu lado do mundo?

(acho que vou a partir de agora começar sempre por perguntar
- então X em cima ou em baixo?
porque estás longe demais de onde eu consigo sentir essas coisas)

o que fizeste tu à martha que ela vagarou por causa de ti?
às vezes consegues ser odioso
:)

a árvore que eu desenhei?
:
www.thezeitgeisttapes.blogspot.com
:
e talvez ainda te apanhe se estiveres a pé depois da meia-noite.
eu vou estar a pé antes das oito.
lembras-te da última vez que te levantaste antes das oito?
: o mundo nem sequer se esforça por fazer sentido

sê grande. r.






(and it still grew the improbability of us)



XINGJIAN, Gao - Buying a Fishing Rod for My Grandfather. London : Flamingo, 2004. €4,40
:
We were deliriously happy (...) [p3]




Henri Rousseau, The Dream, 1910.



e provavelmente para eles também que se estão a levantar. RC (lindo!)



if a person should ever like a person, then a person should like you / being that i'm only just a person, what would you do? if a person should ever like a person, then a person should like me / being that you're only just a person, it must be // still i find it hard to get an answer from the harvester of hearts / always find it hard to get an answer from the harvester of hearts // if a person should ever like a person, how funny that would be / if a person should ever like me // not that i have that much to offer, god knows i have so much to gain / from the harvester of hearts, from the harvester of pain / if a person should ever like a person, then a person should be free / free to like whomever that they want to, even though it ain't me // not that i have much to offer, god knows i have so much to gain / from the harvester of hearts, from the harvester of pain

[Harvester of Hearts, by Rufus Wainwright.]



(ok, há alguém assim mais perto a quem eu possa dizer estas coisas todas? RC)

(ADENDA : sim, mas há alguém assim mais giro a quem eu possa dizer estas coisas todas? e não, de facto não há)



o meu dia começa agora só às oito, quando tu acordas.
até lá arrasto-me adormecido como se espreitasse os sonhos que montas na parte de trás dos olhos.
até lá estendo-me de sítio onde não estás para sítio onde não estás, e nunca te apanho.
o teu dia sempre começou ao meio-dia, quando tu acordas.
até lá sonhas de olhos fechados com possibilidades de ti
e vês sempre de menos, porque os espelhos te agarram e nunca te devolvem total, imperfeiçoável, sol, probabilidade impossível de mim.
até lá vejo-te imaterial por todos os lados, integral de luz, integral de promessas de árvores,
até lá, incontrolável persistência da ideia, vejo-te sempre,
até às oito, quando tu acordas. RC



Obviamente e por isso mesmo chato. RC

P Pelo telefone ou pela internet?
R Em pessoa.



:
"Say thank you".



I remember you well in the Chelsea Hotel,
You were famous, your heart was a legend
You told me again you preferred handsome men,
but for me you would make an exception
And clinching your fists for the ones like us,
who are oppressed by the figures of beauty
You fixed yourself instead, well nevermind,
We are ugly, but we have the music

[from Chelsea Hotel no. 2, by Leonard Cohen, through Rufus Wainwright.]



que o vento que parou de soprar me leve até ti
que vives impossível fora de mim.
que eu me esqueça de pesar
e me deixe levar aonde tu estás.
tu, a convergência da grandeza
e o dia depois de que o sol morreu
para respeitosamente te deixar espaço.
que o amor que te tenho saiba escolher melhores palavras que eu. RC



então noite deprimente, foi?
:
o mundo tende a desligar às sextas, especialmente naquelas em que o precisamos mais.
problema geral.

ora
o que fazer?
:
ora bem, decidi ler algum kafka, o que é de uma forma geral perfeito porque só nos relembra o geral desespero das coisas e como na maior parte das vezes não pertencemos a lado nenhum.

ainda assim : mot do jour : verwandlung
(: significando metamorfose)

a propósito de pertencer, palavras indizíveis, a poesia do desespero,
essas coisas,
espero que te tenhas genial!

parece que não te apanho em lado nenhum.
rc.

(ps : saímos?
:)




Paula Rego, Metamorphosis after Kafka, 2002.



replace this with the words i want to tell you
GAP
uncontrollable
GAP
persistence
(...)
of
GAP
idea
GAP

r.



I write this to thy memory, my love, who art not dead,
And to the memory of that love we never knew to have.

I was the elder, you were the younger, and we were boys.
Had we known how to love, we would have loved each other.
Had we guessed that love's way, we would have found its joys,
But we were boys and we loved each other as brother to brother.

Yes, if I met thee today, perhaps it would be the same.
Now I am shamed to be what erst I knew not I was.

Perhaps what happened was best - that pure white flame
Of out love caught not our senses to flame more yet worse.

Do you remember me and feel aught like this?

Today I know it were best if we had been lovers,
Today I know, but can care no longer.

Thou wert graceful and fair. I was neither: I loved.

The taint is deeper in me of this ancient disease
That only the Greeks made beautiful, because themselves beautiful were.

[Fernando Pessoa, inédito, c. 1916.]




Gustav Klimt, Der Kuss [O Beijo], 1907-8.



yeah, we've done that.



hello, i got something to tell you, but it's crazy / i got something to show you so give me just one more chance, one more glance and i will make of you another believer / guess what, you got more than you bargained / ain't it crazy, you got more than you paid for / so gimme just one more chance, one more glance , one more hand to hold // you've been on my mind, though it may seem i'm foolin' / wasting so much time, though it may seem i'm foolin' / what are we gonna do / what are we gonna do about it / another believer // so then, that is all for the moment, until next time / until then do not worry and gimme just one more chance / one more glance and i will make of you, i'm gonna make you another believer // you've been on my mind, though it may seem i'm foolin' / wasting so much time, though it may seem i'm foolin' / what are we gonna do, what are we gonna do about it.

[Another Believer, by Rufus Wainwright, out of Meet the Robinsons OST.]



ABOUT THE TYPEFACES NOT USED IN THIS EDITION
by Jonathan Safran Foer


ELENA, 10 POINT: This typeface - conceived of by independent typographer Leopold Shunt, as the moon set on the final night of his wife's life - disintegrates over time. The more a word is used, the more it crumbles and fades - the harder it becomes to see. By the end of this book, utilitarian words like the, a and was would have been lost on the white page. Henry's recurrent joys and tortures - bathwater, collarbone, vulnerability, pillowcase, bridge - would have been ruins, unintentional monuments to bathwater, collarbone, vulnerability, pillowcase and bridge. And when the life of the book dwindled to a single page, as it now does, when you held your palm against the inside of the back cover, as if it were her damp forehead, as if you could will it to persevere past its end, God would have been nearly illegible, and I completely invisible. Had Elena been used, Henry's last words would have read:

TACTIL, VARIABLE POINT: "A text should reveal the heart's emotional condition, as an EKG readout reveals its physical one." This idea was the inspiration for Basque typographer Clara Sevillo to create Tactil, a good example of the early interface types. The size of a letter corresponds to how hard the key is pressed. Air-conditioning blows its story over the keys, as does the breath of a bird on the sill, as does the moonlight whose infinitesimally small exertion also tells a tale. Even when there is nothing applying pressure to the keys, a text is still being generated - an invisible transcript of the world without witnesses. And if one were to hammer the keyboard with infinite force, an infinitely large nonsense word would be produced.
If this book had been typeset in Tactil, Henry's various I love yous could have been distinguished between narcissistic love ("I love you"), love of love rather than love of another ("I love you"), and traditional, romantic love ("I love you"). We could have learned where Henry's heart leaned when on the unsafe wooden bridge he confessed himself to Sophy. And we could have learned if it is true that one can love only one thing at a time, making I love you definitionally impossible.
Tactil was not used because preliminary calculations suggested that the author was striving - intentionally or not - to recreate the physical world. That is, tree was typed with the force to make the word as large as a tree. Pear, cumulus and Band-Aid typed to make the words to the scale of a pear, a cloud and a Band-Aid. To print the book in this way would have required bringing another world into existence, a twin world composed entirely of words. We finally would have known the sizes of those abstract ideas whose immeasurability makes us, time and time again, lose our bearings. How does existentialism compare to a tree? Orgasm to a pear? A good conversation to a cumulus cloud? The mending of a gnarled heart to a Band-Aid?
But even if logistics had permitted, this typeface still would have been rejected, because as a quantitative, rather than qualitative, measure, it could have been quite misleading, That is, Henry's love for Sophy may have been the size that it was because of hate, sympathy, jealousy, neediness or, however unlikely, love. We would never have known, only that there was much of it, which is to know very little.

TRANS-1, 10 POINT: This typeface refreshes itself continuously on the screen, words being replaced by their synonyms. Now autumn begins exists only for long enough to bring present fall commences into existence, which instantly disappears to make room for gift descend embarks, which dies so that talent alight boards ship can live. Trans-1's creator, IS Bely (1972-), said that he hoped the typeface would illuminate the richness of language, the interconnectedness, the nuance of the web. But instead, Trans-1 reveals language's poverty, its inadequate approximations, how a web is made of holes, how the river of words flows always away from us.

TRANS-2, 10 POINT: This typeface also refreshes continuously, but unlike Trans-1, words are replaced by their antonyms. Now autumn begins exists only for long enough to bring later spring ceases into existence, which instantly disappears to make room for presently dry riverbed persists, which dies so that never flowing water perishes can live. It was Bely's intention, with Trans-2, to illuminate the poverty of language, its inadequate approximations, how a web is made of holes. But instead, we see the string connecting those holes, and caught in the net is the shadow of meaning.

This typeface frequently freezes in place, fixed on words that cannot be refreshed. What, after all, is the opposite of God? The meaning is liberated from the words by the typeface's inability to translate them. These nonexistent antonyms are the reflections of the words we are looking for, the non-approximations, like watching a solar eclipse in a puddle. The antonym of God's non-existent antonym is closer to God than God will ever be. Which, then, brings us closer to what we want to communicate: saying what we intend, or trying to say the opposite?

TRANS-3, 10 POINT: This typeface also refreshes continuously, but unlike Trans-1 and -2, words are replaced by themselves. Now autumn begins exists for only long enough to bring now autumn begins into existence, which instantly disapears to make room for now autumn begins which dies so that now autumn begins can live. A word, like a person, exists for exactly one moment in time. After that moment, only the letters - cells - are shared. What autumn meant when uttered by Stephen Wren in Cincinnati at 10:32:34 on April 14, 2000, was quite different from what it meant one second later when he said it again, and was entirely unlike what it meant one hundred years before, or one thousand years before, or at the same moment, when cried by a palsied schoolgirl in Wales. This typeface tries to keep pace with language, to change as the world changes, but like chasing the long black cape of a fleeing dream, it will never catch up. Now autumn begins will never mean what it does, but what it did.

AVIARY, VARIABLE POINT: One of the more unorthodox typefaces of the end of the twentieth century, Aviary relies on the migration of birds. The typesetter, who is preferably an ornithologist, tattoos each word onto the underside of a different bird's wing, according to its place in the flock. (The first word of this book, Elena, would have been tattooed onto the wing of the natural leader. The last word, free, onto the wing of the bird who carries the rear.) Alexander Dubovich, Aviary's creator, said his inspiration was a copy of Anna Karenina that fell from the shelf and landed spread, text-down, on the floor.
Among many other reasons, this typeface was not used because the order of birds in a flock shifts regularly. The natural leader never remains the leader, and the bird in the rear always moves forward. Also, Aviary is only coherent when the birds are in flight. When perched in trees, or collecting the thrown scraps from some kind park goer, or sleeping on the sills of high apartment windows, the birds are in disarray, and so would be the book. It could exist only in flight, only between places, only as a way to get from here to there. Or there to here.

ICELAND, 22:13:36. APRIL 11, 2006, VARIABLE POINT: There are 237,983 words in this book. The same number of people were alive in Iceland at 22:13:36, April 11, 2006. The designer of this typeface, Bjorn Jaagern, devised to give each person a word to memorise, according to age. (The youngest citizen would be given Elena, the oldest free.) In an annual festival, the people of Iceland would line up, youngest to oldest, and recite the story of Henry's tragic love and loss, from beginning to end.
As citizens died, their roles in the recitation would be given to the youngest Icelander without a word, although the reading would still proceed from youngest to oldest. It was the hope of the citizens of Iceland that the book would cycle smoothly: from order to disorder, and back to order again. That is, Let our fathers and mothers die before their children, the old before the young.
Iceland, 22:13:36, April 11, 2006, was not used because life is full of early death, and fathers and mothers sometimes outlive their children. The editor's concern was not that the book would become a salad of meaning, but that hearing it once a year would be too painful a reminder that we are twigs alighted on a fence, that each of us is capable of experiencing not only Henry's great love, but also his loss. Should a child recite a word from the middle - from the scene in which Henry's brother stuffs up the cracks with wet towels, and loses his lashes in the oven - we would know that he or she replaced someone who died in middle-age, too soon, before making it to the end of the story.

REAL TIME, REAL WORLD, TO SCALE: This typeface began organically, with the popularisation of e-mail. Such symbols as :) came to stand for those things that words couldn't quite get at. Over time, every idea had a corresponding symbol, not unlike the drawings from the dark caves of early man. These symbols approximated what a word described better than a word ever could. (A picture of a flower is closer to the flower it describes than flower is.)
Here, for example, is how the final conversations between Henry and his brother would have read in such symbols:

And here is the scene on the unsafe wooden bridge, when Henry confesses himself to Sophy:

The evolution continued. The typographical symbol for flower became a sketch of a flower, then an oil painting of a flower, then a photograph of a flower, then a sculpted flower, then a video of a flower, and is, now, a real-time real-world flower. Henry exists: he blinks, he inhales, he tells his older brother, I love you more now than I did before, he stammers, he sways, he begs, Sophy, believe in me, always.
This typeface was not used because of the fear that it would be popularised, that all books would be printed in real-time real-world, making it impossible to know whether we were living as autonomous beings, or characters in a story. When you read these words, for example, you would have to wonder whether you were the real-time real-world incarnation of someone in a story who was reading these words. You would wonder if you were not the you that you thought you were, if you were about to finish this book only because you were written to do so, because you had to.
Or perhaps, you think, it's otherwise. You approach this final sentence because you are you, your own you, living a life of your own creation. If you are a character, then you are the author. If you are a slave to your own weaknesses, then you are unconstrained. Perhaps you are completely free. JSF




Michaelangelo, David, 1504, through Terry Gilliam.



ou, deixemo-nos de





I may not be the man that you expected / but I'm the best man I know how



Às vezes o mundo dá duas cambalhotas para trás e faz realmente sentido. E uma das situações em que isso se vê claramente é quando os prémios vão parar a mãos que os merecem. Ontem foi o mestre Lobo Antunes, que merece tudo e mais alguma coisa, porque me deu também tudo e mais alguma coisa. Há uns meses foi Orhan Pamuk, Nobel da Literatura, que se me queria convencer não precisou de fazer grandes malabarismos. Bastou-lhe escrever o livro mais bonito que eu li de recente. Bastou-lhe. RC

Nome: My Name is Red
Autor: Orhan Pamuk
Formato: 508 páginas
Dimensões (em centímetros): 2,8 x 19,7 x 12,6
Data de publicação: 2006
Assuntos relacionados: Arte, Religião, Amor, Cegueira, Morte.
Descrição: To know is to remember that you've seen. To see is to know without remembering.
Tipos de letra: ?
Dedicatória: For Rüya



Alguém escreve uma coisa sem grandes pretensões. É um desabafo de fim de dia. De não ter mais onde guardar as palavras. De ser tão óbvio que as frases se desenrolam de próprias.
Depois eu leio essa coisa. Faz tanto sentido, grita de ser verdade tanto em cada palavra, que eu leio como se me fosse dito ao ouvido. Ao meu ouvido só. Sinto-me obrigado a responder. A devolver. Ao teu ouvido só.
«
É impressionante para mim o que as palavras conseguem. Puxam-te para cima, cortam-te em bocados, dão um sentido todo novo à tua vida. As palavras que acabaste de me dizer fizeram-me mesmo feliz... como já não há muito tempo. Obrigado. Obrigado.
»
De nada. Ao teu ouvido só. RC




Peter Brueghel, o Velho, Paisagem, com a queda de Ícaro, c. 1558.



:
A man who knows how to embrace is a good man.



Eu nunca finjo que estou bem quando não estou bem. Eu finjo que estou bem quando não estou mal. RC



he told me he liked Turner
:

John William Turner, Sunrise with Sea Monsters [Aurora com Monstros Marinhos], c. 1845.





Patrick Marber é-me um brilhante argumentista desde o dia em que vi o Closer no cinema pela primeira vez
(Closer, argumento de Marber a partir da peça escrita por ele próprio).
Desde esse dia Marber é-me um escritor brilhante de economia de palavras, e de enganosa complicação em as escolher, e de conseguir sempre as melhores, as mais bonitas, e as mais eficazes.
Se quis ir ver Diário de um Escândalo (Notes on a Scandal, no mais desempoeirado original), foi porque era Marber a adaptar um livro de outra pessoa. Mas porque, fosse isso o que fosse, seria sempre Marber.
O filme está subtil e brilhantemente escrito, cada frase soa intocável, cada palavra pesa o que deve e o que Marber quer que ela pese. O fio do filme é irrepreensível. Depois junte-se-lhe uma Judi Dench perturbadora e uma lindíssima Cate Blanchett, e espalhe-se a música de Philip Glass. Recomenda-se sempre e mais que uma vez.
À vinda embora, se encontrarem a Ana Maria Nobre, responsável pela tradução, dê-se-lhe uma sova como ela nunca apanhou na vida. RC



Sim. trs aliás, se eu me pus online agora foi mesmo para mandar o link da capa à minha irmã trs... ela ainda não a viu! eu adoro a capa depois de ter visto a escultura toda. de início fiquei um bocadinho atravancado, estava mesmo à espera que o Rufus estivesse na capa... mas depois de olhar para ela dez minutos, caí-me completamente por ela! Lembra-me qualquer coisa que os Antony and the Johnsons usariam como capa... seja como for, sim, ADORO-A!
Ainda bem que estás melhor. eu não estou mal... mas já estive bastante melhor. estou numa espécie de cheio de dívidas e é muito muito muito stressante. seja como for, se tudo correr bem não tarda a estar tudo decente outra vez. ouvir o Rufus deve funcionar. como sempre.
scf, f-t breve. [X]



Ainda não viste as novidades no site?
e temos uma capa (!) : de que eu gosto bastante, especialmente se leres no fórum todo o contexto.
o que é que achas?
(mais : pergunta parva : qual é a tua letra grega favorita?)
se calhar não fazes ideia do quão libertador é dizer algumas coisas alto pela primeira vez
(a propos : ouve a 'at last i'm born' do morrissey)
sinto-me bastante mais leve agora. e estou. como estás tu?
tentei adicionar-te no msn mas eles não me deixaram.
mots du jour: reset and restart

falo-te em breve [ftem], fica bem,
RC.




Atena Atacando os Gigantes, detalhe do friso da face este do altar de Pérgamo. Mármore. Altura do friso: 2,3m. Staatliche Museen zu Berlin, Antikensammlung, Pergamonmuseum

:
um, Note-se na moça, Geia, deusa da terra, mãe de todas as mães, no lado direito da fila de baixo, e
dois, Note-se que lhe faltam o nariz e a boca, e
três, Note-se que Rufus Wainwright anda muito por Berlim à conta do Jörn e de ter gravado lá parte do disco, e
quatro, Note-se que a mãe do Rufus passou por um mau bocado lá pelo natal.
cinco, Agora sim, reveja-se a capa em condições.



At last I am born / historians note / I am finally born / I once used to chase / affection withdrawn / but now I just sit back and yawn / because I am born, born, born // "Look at me now / from difficult child / to spectral hand / to Claude Brasseur / blah, blah, blah, blah..." // At last I am born / vulgarians know / I am finally born / I once thought that time / accentuates despair / but now I don't actually care / because I am born, born, born // "Look at me now / from difficult child / to spectral hand / to Claude Brasseur / blah, blah, blah, blah..." // At last I am born / at last I am born / living the one, true, free life / born / I once thought that I / had numerous reasons to cry / and I did - but I don't anymore / because I am born, born, born // At last I am born / at last I am born / it took me a long, long time / but now I am born / I once was a mess / of guilt because of the flesh / it's remarkable what you can learn / once you are born, born, born / born, born, born / born, born, born.

[In At Last I'm Born, by Morrissey.]



>>>>> :
Será? RC



and restart. RC



desculpa... eu não queria não responder... é que tenho andado eu mesmo ocupado e stressado ultimamente...
vou fazer o meu melhor para te responder mais das vezes!!!
eu sei como é atravessar momentos chatos... também estou com um desses agora mesmo!!
tens é de encontrar alguma coisa que te ponha de pé e esquecer as coisas más!!
rufus wainwright funciona sempre!! como sei certo que sabes!!
música em geral levanta-me sempre no pior dos tempos!!
agora tenho de ir! mas falo-te outra vez próximo!!!!
tem um dia grande! [X]



PAMUK, Orhan - Istanbul : Memories of a City. London : Faber and Faber, 2006. €14,67
:

:
From a very young age, I suspected there was more to my world than i could see. [p1]



desculpa que eu continue a escrever já que não tens óbvio interesse que eu o faça

a verdade é que estou a atravessar um momento difícil
(nada muito sério)
e sabe bem falar com alguém que não me conhece de lado nenhum sobre coisas em que podemos os dois coincidir
(música, filmes, sabes, isso
esse tipo de inutilidades que nos fazem afinal seguir em frente)
porque os amigos tendem a achar que devíamos era mesmo falar sobre as outras coisas
(o que é que eles sabem?)
e discutir coisas destas contigo parece-me a coisa mais definitivamente sã que eu posso fazer nesta altura.

já alguma vez tiveste de encarar alguma coisa de profundamente vidamudável
[ou, bastante mais em negação e giro]
afinal queres ou não aquelas músicas.
fazem-me seguir em frente.

obrigado,
RC.



(...) quero ser um modelo de sucesso... quero entrar nos anúncios da censored e quero descer a passerelle abaixo em desfiles da censored e da censored... quero brilhar alto... mas por todas as boas razões... e um dia hei-de (...)

(agora : há quem diga que isto é bastante fútil e pequenino mas eu teria de dizer que é de facto, mas permite-se-lhe tudo. As marcas foram censored porque são bastante deprimentes e são objectivos isso sim pequeninos, tratando-se como se trata da pessoa)




Sandro Botticelli, La Calunnia di Apelle, 1494-5.



Juntai-vos, rufianos de todo o mundo, pois novidades há que pedem que rejubilemos.
:
Um texto potencialmente promocional surgiu que é muito bem disposto em relação ao álbum
>
Rufus Wainwright is back with what is undoubtedly one of the albums of 2007. The critically acclaimed singer-songwriter returns on May 14th with his eagerly awaited new studio LP 'Release The Stars' – a 12-track masterclass in songwriting and production, his first new material since 2005's remarkable 'Want Two'.

'Release the Stars' is the fifth Rufus Wainwright album and the first that he has produced himself. All songs are written by Rufus. Neil Tennant is the executive producer while long-time collaborators Marius de Vries and Andy Bradfield sprinkled magic dust over the tracks in the mix.

The album bears all the hallmarks of this highly original artist while the material ranges from meticulously layered, richly textured songs to a more intimate stripped down sound. Special guests include guitarist Richard Thompson, Joan Wasser, actress Sîan Phillips (spoken word on 'Between My Legs'), Neil Tennant (backing vocals on 'Tiergarten' and 'Sanssouci'), his sister Martha (backing vocals on 'Do I Disappoint You') and Teddy Thompson (backing vocals on 'Tiergarten')

Some of the many highlights include the haunting ache of 'Do I Disappoint You', the politically charged 'Going to A Town', the restless romance of 'I'm Not Ready For Love', the electro pop of 'Rules and Regulations' and the magnificently epic title track.

As ever, Rufus' vivid lyrics are integral to the album's charm. An opulent, sophisticated LP recorded between New York, London and Berlin, it's a welcome return for the artist who's widely regarded as one of the most respected and innovative performers of his generation. For Rufus Wainwright, the time is now.

<
ou seja, eu usaria aqui uma espécie de grito de júbilo, mas transcrevê-lo foneticamente
(woooooo)
seria parvo. Ainda por cima seria
(woooooo)
com fonética do estrangeiro, o que não teria
(woooooo)
jeito nenhum.

Entretanto, três novas rufices esperam-se para o fim do mês, sob a forma de três músicas que ele compôs para a banda sonora de Meet the Robinsons, a nova bonecada da Disney. Duas delas canta-as ele, e uma canta-a Jamie Cullum.
Repita-se o estado de júbilo. Podem agora voltar às vossas vidas. RC



PAMUK, Orhan - The New Life. London : Faber and Faber, 2006. €11,34
:
I read a book one day and my whole life was changed. (>>) The next day i fell in love. [pp3+16]



:
To know is to remember that you've seen. To see is to know without remembering.





Would you say you think more or less than me about the, you know, general boorishness of life? Perhaps you don’t think about it at all : oh, I’m sorry, I just assumed you did, I just assume everybody does, that’s all. Good for you. That means : god, how amazing : that means you lead an untarnished and flawless life, though you’re not aware of it, of course, or on the whole not as aware as you should be. And that also means you’re heading for the clumsiest day of your entireness. That’s the day : I don’t even remember mine anymore, god, how long has it been? : that’s the day you leave home, as usual, wearing a grin, as you’ve ever done, you know, just in case, and there won’t be anything in the world : and I don’t mean just your street, or your neighbourhood, or even your city or your state, I do mean the world, in the full and vast entirety of both its faces : there will not be even one thing worth smiling at, or deserving, if you like : I find this wording far more befitting : deserving of the greatness of your smile. Then you’ll find that you’ve stopped grinning, even your eyes : the pureness of your eyes, and the depth : feel that it’d be rude if the glowed, and that’s when starting with the softness of your skin and ending with, if you allow me : do tell me if I’m out of order, I do tend to offend the people I love : the skinniness of your soul, you will die a little bit all over yourself, and it will hurt, it’ll be the first of your deaths and by far the most painful, I assure you, and it’ll be so overall lifewrecking and disorienting that from that day on even something as simple as the sketching of a smile will feel hard and unnatural, do believe me, it will feel like a fucking spasm, a muscular reflex fit for nothing, it’ll be like an habit emptied of reason, emptied of heart : that’s it, I’ve been avoiding the word heart because you even forget its meaning, you forget everything from life, or, at least, the simplest things, the things and the concepts that are actually of any use at all : you will feel empty because empty of a heart : can you imagine what that is, can you just think of a life without joy, fuck, a life without life? : and when you’ve been there it will be so difficult to smile again, so enormously hard and frightfully random, that if I sometimes smile it is because you still have a heart that I can borrow, and that I use, shamelessly, fearlessly, passionately, increasingly forgetful of the grey areas of being, and increasingly indebted to you. Only the good things in life can remind us of what far means. RC



A gosta de B, B gosta de C, logo : A gosta de C.
Senão como é que se estragavam casamentos? RC


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hoje todo o dia A42RÁDIO



how fucking convenient is that?)



Viste El Laberinto del Fauno?
sim, aquele espécie-de-coiso-vencedor-de-oscars-estrangeirado-esquizóide-da-estranhalândia?
...
isso. Eu não costumo ser grande fã deste tipo de coisa, mas ganhou o grande prémio num positivamente credível festival de cinema português
(como se tivéssemos assim tantos)
e por isso decidi ir espreitá-lo.
Ora
:
lindíssimo filme realmente. Alguns diriam
(e por 'alguns' refiro-me a amigos encolhendo-se nas cadeiras)
que é um bocadinho gráfico de vez em quando, mas eu diria gráfico da mesma maneira que o House, MD é gráfico quando eles estão para aí virados
(esses amigos argumentariam então com a substancial diferença de métodos entre o Princeton-Plainsboro e a Espanha fascista, o que eu considero um argumento menor e consequentemente tendo a desconsiderar)
mas para os de grande estômago é um filme bonito bonito.
Recomendo vivamente. RC



Guilty pleasure. Raios te partam, Jared Manuel. Raios te partam. RC





É assim que se faz. RC



[click to enlarge]


Hieronymus Bosch, A Tentação de S. Antão, circa 1505.



MELVILLE, Herman - Moby Dick. London : Penguin, 2006. €3,15
:
Call me Ishmael. Some years ago —never mind how long precisely— having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world.



Ó que caraças. Agora é que tudo que era mundo como o conhecemos deixou de ser e estamos ainda à espera que venham entregar o novo. Deve chegar amanhã.
:
Neil Hannon ganhou um prémio.

;
Desculpem, eu fico sempre assim quando o mundo se distrai e faz sentido. O último album, Victory for the Comic Muse, do ano passado, ganhou o Choice Music Prize. Isto quer dizer que o neil
(eu escrevo sempre neil em minúsculas porque maíusculas é muito formal)
tem agora uma espécie de bibelot para pôr numa estante, estante essa que provavelmente vai poder comprar com os 10000 euros do prémio
!
A melhor das alegrias ainda é a em segunda mão. Parabéns, rapaz. RC



Marías é eternamente outra coisa. É eternamente. RC

Nome: Tu Rostro Mañana : 1 Fiebre y Lanza
Autor: Javier Marías
Formato: 341 páginas
Dimensões (em centímetros): 3 x 17,5 x 11
Data de publicação: 2004
Assuntos relacionados: Caras, Vozes, Segredos, II Guerra Mundial, Guerra de Espanha.
Descrição: No debería uno contar nunca nada.
Tipos de letra: ?
Dedicatória: Para Carmen Lopéz M, que ojalá me quiera seguir oyendo // And for Sir Peter Russell, to whom this book is indebted for his long shadow, and the author, for his far-reaching friendship


Hoje


01|dezembro|2006

The many faces of robert webb.
Isso do ricardinho acabou.

(Rufus Wainwright | Rules and Regulations
> from Release the Stars)



A ler Frost de Thomas Bernhard e ouvir e a ver coisas que se fôssemos aqui a pô-las todas havíamos de chegar atrasados a sítios onde temos horas para chegar.

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